PARECE, MAS NÃO É – AS ILUSÕES DE ÓPTICA!

As ilusões de óptica podem ser as maiores aliadas de um cineasta ou a causa do fracasso de uma cena. É imperativo, portanto, ter domínio sobre elas

Texto: Ricardo Bruini
Imagens: Divulgação

Todos nós já nos deparamos, em algum momento, com situações nas quais aquilo que vemos não condiz exatamente com a realidade. Estes fenômenos ocorrem o tempo todo e, na maioria das vezes, nem nos damos conta disso. São as chamadas “ilusões de óptica”.

Tais fenômenos ocorrem quando existe um conflito entre o que nossos olhos enxergam o que o esperaríamos que eles enxergassem. As ilusões de óptica, na realidade, são criadas pelo nosso cérebro, não por nossos olhos. Quanto mais inusitado for o conflito entre nossa visão e nossas experiências sensoriais, mais influenciados somos por estes fenômenos. Por isso, mentes treinadas são mais capazes de perceber a existência de ilusões de óptica que outras menos acostumadas a esses conflitos.

Aliadas na composição de imagens

Na maioria das situações envolvendo imagens, as ilusões de óptica podem confundir e desorientar, atraindo a atenção para o elemento errado ou causando possíveis erros de interpretação. Uma composição de imagem que peque por distrair o espectador do foco principal, ou ainda, que o confunda e o faça compreender algo diferente do que seria a intenção inicial, pode ser um problema sério em um audiovisual. Imagine os estragos que interpretações errôneas por parte do espectador podem acarretar.

Entretanto, um bom diretor de fotografia pode utilizar esses fenômenos para enfatizar suas intenções estéticas e levar o espectador a melhor compreender a imagem, mesmo que esta compreensão ocorra involuntariamente. O simples fato de percebermos profundidade e texturas em meras imagens bidimensionais já é um ótimo exemplo de como as ilusões ópticas podem auxiliar no trabalho de um diretor de fotografia ou operador de câmera.

As ilusões podem auxiliar a direcionar o olhar do espectador para determinado elemento de composição. Ou, ainda, a criar a atmosfera perfeita para determinada cena.

O “claro” que “não é claro”

Um simples e bom exemplo de ilusão de óptica aplicada a imagens é aquela que ocorre quando posicionamos dois elementos de cor e brilho idênticos em regiões de brilhos distintos da cena. Se, por exemplo, colocarmos um quadrado cinza cercado por uma região escura da imagem e um outro quadrado cinza idêntico cercado por uma região clara da mesma imagem, teremos a nítida sensação de que o quadrado posicionado na região clara é muito mais escuro do que aquele posicionado na região escura da imagem (embora ambos sejam idênticos). Isto se deve ao fato de nosso cérebro não processar este quadrado como um elemento isolado, e sim, como pertencente a um contexto visual bastante amplo. O mesmo fenômeno poderia ser utilizado na confecção de cenários, figurinos e na escolha das áreas iluminadas de uma cena, criando a percepção sensorial mais adequada para determinada imagem, de acordo com as intenções artísticas do autor.

Pelo mesmo motivo, quando for escolher a nova cor do seu quarto ou sala, faça antes um teste com a tinta em um canto do cômodo. E nunca somente em uma única parede, pois a luz que incide nela pode ser diferente da que incide nas demais (e você achará que aquela belíssima cor, que demorou horas para ser escolhida no catálogo do fabricante, ficou mais escura ou clara do que gostaria!).

Tamanho relativo

Outro exemplo clássico é quando tentamos comparar o comprimento de dois elementos visuais quando estes são posicionados em determinadas regiões da imagem. Imagine, por exemplo, a perspectiva de uma estrada de ferro, com os trilhos formando linhas verticais que tendem a se unir em um ponto de fuga. Se posicionarmos uma linha horizontal na parte “distante” desta estrada de ferro e outra linha horizontal idêntica em sua parte mais “próxima”, teremos a nítida sensação de que a linha horizontal na área mais “distante” da estrada é maior que aquela posicionada na parte mais “próxima”, embora ambas as linhas horizontais tenham o mesmo comprimento.

Da mesma forma, se, ao enquadrarmos uma cena, colocarmos um coelho próximo à câmera e uma casa e uma pessoa na linha do horizonte, o coelho parecerá muito maior que a casa e a pessoa (embora saibamos que isto não é fisicamente possível). Inclusive, este efeito foi bastante utilizado no cinema por décadas (antes dos adventos de tecnologias de composição digital) para criar ilusões de tamanho, nas quais “coelhos monstros” poderiam possuir o tamanho de casas e aterrorizar toda uma cidade (ou outras invenções criativas do gênero).

 

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