VISÃO DE MESTRE

O que podemos aprender com Henri Cartier-Bresson, o “pai do fotojornalismo”?

João Lisboa

No ano da França no Brasil, não poderíamos deixar de falar de Henri Cartier-Bresson, um mestre da fotografia.  Nascido de uma família de classe média, em agosto de 1908, Cartier-Bresson foi um dos fotógrafos mais importantes do século passado, sendo considerado, por muitos, o “pai do fotojornalismo”.

Quando criança, ganhou uma câmera Box Brownie, com a qual produziu muitos instantâneos – partindo, depois, para experiências com uma câmera de 35mm. Aos 22 anos, viajou para a África, onde caçou durante um ano. Mas retornou à França após contrair uma doença tropical. Nesse período, inspirado por uma imagem do fotógrafo húngaro Martin Munkacsi, Cartier-Bresson descobriu sua verdadeira vocação.

Engajado ao exército francês durante a Segunda Guerra, foi capturado e mantido em um campo de concentração, de onde fugiu para se juntar à Resistência Francesa. Ao fim do conflito, Cartier-Bresson inaugurou a agência fotográfica Magnun, junto a outros colegas. A marca registrada da agência era a sofisticação – e logo revistas como “Life” e “Vogue” o contrataram para viajar o mundo e registrar imagens únicas. Cartier-Bresson foi o primeiro fotógrafo a registrar a vida na União Soviética de maneira livre. E “clicou” momentos importantes da história, como os últimos dias de Gandhi.

OLHAR FOTOGRÁFICO

Henri Cartier-Bresson teve uma vida farta em experiências, o que, provavelmente, ajudou no desenvolvimento de seu olhar fotográfico. Ele enxergava o que a maioria das pessoas não consegue ver. O mestre nos deixou imagens fantásticas, que podem servir como “exercícios do olhar”. Adotando a mesma ótica de Cartier-Bresson, vivenciamos o prazer de “descobrir” cenas inesperadas em pleno cotidiano.

Para fotografar sob o ângulo do mestre, é preciso ter a mente livre e ousar nos enquadramentos. Na movimentação do cotidiano, tudo acontece de forma bastante dinâmica. Portanto, é necessário que o fotógrafo se desvincule dos padrões comuns de enquadramento e criação.

A artista plástica Rosa Diaz, por exemplo, teve um “momento Cartier-Bresson” ao registrar imagens interessantíssimas de um navio atracado no Porto de Santos, em São Paulo (SP). Em visita ao nosso estúdio, Rosa comentou que faria um cruzeiro nos próximos dias – e decidimos fazer essa experiência, munindo-a de um equipamento programado “no automático”. Ela teria apenas que apertar um botão para fazer o foco e a captura das imagens. E o resultado foi soberbo!

Vale lembrar que Rosa não tinha experiência prévia em fotografia e, nesse caso, sequer manipulava um equipamento profissional (tratava-se de uma máquina semiprofissional, com recursos limitados): Ela trabalhou com uma Canon Rebel 350, com lente simples (e até de pouca qualidade ótica). Antes de obter essas imagens, a última vez em que utilizara uma câmera fora em 1970, durante uma viagem a Bariloche – depois, nunca mais!

Experimente “brincar de Bresson”: tenho certeza que você se surpreenderá com a própria capacidade de olhar fotograficamente. E não tenha dúvida: eventualmente, você criará sua linguagem.

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