Filme aborda a violência sexual contra crianças e adolescentes

Filme aborda a violência sexual contra crianças e adolescentes

Documentário Se Eu Contar, Você Escuta?, dirigido por Renata Coimbra, dá voz a mulheres que foram vítimas de abusos durante a infância

Fotos Henrique Moura

Primeiro filme da diretora Renata Coimbra, o documentário Se Eu Contar, Você Escuta? aborda um tema forte: a violência sexual contra crianças e adolescentes. A produção mostra como esse fator afetou as vidas de oito meninas (hoje, mulheres), que relatam suas experiências de forma corajosa.

Se Eu Contar, Você Escuta? (que foi exibido em cinemas de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília entre os dias 20 e 26 de maio) se baseou em gravações em áudio realizadas nos anos 1990, que narram as histórias das vítimas – filhas de famílias de migrantes e agricultores que viviam nas ruas de uma cidade do interior do Brasil.

Renata Coimbra conheceu essas mulheres quando ainda eram adolescentes e estavam em situação de rua. Na época, a diretora supervisionava um grupo de assistentes sociais da Prefeitura de Presidente Prudente e gravou as entrevistas com elas.

Depoimentos

“Ao ouvi-las novamente, passei a me perguntar o que aconteceu com aquelas meninas”, diz a cineasta. “Elas estariam vivas? Na ocasião, se viam sem saída, mas e agora?” Renata, então, convidou Célia Freire, uma das assistentes sociais que acompanhava as meninas e que havia desenvolvido uma forte relação com elas. Juntas, ambas saíram em busca dessas jovens, encontrando algumas e se surpreendendo com o destino delas. O documentário nasceu a partir dessa experiência.

A violência sexual atinge crianças e adolescentes de todas as idades e classes sociais. Dados de 2021 levantados pela Unicef em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com base em casos registrados em boletim de ocorrência, mostram que, a cada hora, cinco crianças e adolescentes são vítimas de violência sexual no Brasil. Os pesquisadores desse fenômeno estimam que, para cada caso registrado, ao menos outros nove não integram as estatísticas, por inúmeros motivos.

O documentário de Renata Coimbra ganhou uma trilha sonora original criada pela premiada musicista mineira Maria Bragança, que se inspirou nas cirandas brasileiras e músicas cantaroladas pelas protagonistas durante seus depoimentos. Uma delas, a popular Brilha, Brilha, Estrelinha, em sua versão medieval, traz uma pergunta reveladora: “Eu devo contar para você, mamãe, o que está causando meu tormento?”

Engajamento social

A diretora conta que, há 20 anos, quando entrevistou as protagonistas, não imaginava que suas histórias seriam contadas em um documentário. “Eu era uma pesquisadora e, embora sempre tenha sido uma apaixonada por filmes desde muito jovem, essa possibilidade estava muito distante”, diz a cineasta. “Reencontrá-las, conhecer sobre suas vidas, saber como estavam, como enfrentaram a dura realidade que viveram e sobre suas lutas cotidianas, foi uma experiência reveladora. Poder transmitir suas histórias de dignidade e resistência, compartilhando com o público, é de uma satisfação indescritível.”

A expectativa de Renata é que o filme promova engajamento social na defesa de crianças e adolescentes que vivem tais contextos. “Acredito que a linguagem cinematográfica, com divulgação de temas complexos que exigem sensibilidade, auxiliam na mobilização social e empatia daqueles que assistem aos filmes”, conclui a realizadora.

O filme é uma produção da T’AI Criação, sediada em Brumadinho (MG). O documentário teve apoio do Programa Ibermedia 2015, foi selecionado pelo Edital de Cinema BNDES 2016, sendo contemplado para investimento, tornando-se o primeiro projeto de documentário mineiro a receber esse prêmio.

You don't have permission to register