COMO FAZER UM ROTEIRO – SENSO DE NARRATIVA

Newton Cannito e Roberto d’Avila, da agência FICs – Fábrica de Ideias Cinemáticas, avisam aos aspirantes à carreira de roteirista: “toda trama precisa ter sua ‘lógica interna

 

Por Ananda Guimarães e Livia Anzal

 

“O que realmente cria valor no mercado de conteúdo é o conceito, a criação, o universo de trabalho daquela dramaturgia”, sentencia o produtor e empresário Roberto d’Avila.

Newton Cannito, que assina o livro “Manual do Roteiro” (Editora Conrad), afirma que a maior dificuldade em qualquer obra é criar sua lógica interna. Se isto não ocorrer, e os criadores forem “frouxos” em suas regras, o espectador, mesmo sem saber o porquê, não gostará do resultado final. Tudo precisa se encaixar. Justamente por isso, Cannito e d’Avila, fundadores da agência FICs – Fábrica de Ideias Cinemáticas –, investem em um novo conceito de criação de conteúdos através dos universos. Assim é possível entender a fundo como opera aquela realidade e oferecer projetos com mais propriedade e consistência.

 

Neste bate-papo, os dois expressam sua visão dos modernos processos de construção de roteiro, inclusive, sobre o Screenplay Doctoring (Consultoria em Roteiros), uma prática nova no Brasil.

Como surgiu o método de escrita fics? quais SÃO seus principais conceitos?

A FICs visa suprir a demanda existente no mercado por criadores que saibam fazer produtos para várias mídias, simultaneamente. Nosso diferencial é reunir talentos e usar um método de criação inédito, que concilie o trabalho coletivo com a autoria. O principal conceito é o processo de concepção e produção de cada projeto. As narrativas se sustentam em um amplo processo de pesquisa e se aplicam a diversas mídias – tendo, assim, a mesma temática explorada na Internet, televisão, teatro, Stand Up Comedy e livros, entre outras.

 

Além DE DESENVOLVER projetos narrativos em mídias variadas, vocês trabalham com consultoria de roteiroS, algo recente no Brasil em comparação a outros países NOS QUAIS a indústria cinematográfica movimenta mais profissionais e dinheiro. Esta impressão é mesmo real? O desenvolvimento de consultorias de roteiro pode modificar estruturalmente o cenário audiovisual do país em termos de mercado e construção de linguagem? 

 

Realmente, o Screenplay Doctoring é um conceito novo no Brasil. Esperamos que, com esse trabalho, o país passe a produzir roteiros melhores e que nossos roteiristas passem a ser mais valorizados no processo de produção. A ideia é mesmo dar início a um progresso no cenário audiovisual, para que nosso mercado passe a ser comercialmente viável.

 

Como o método fics foi empregado no trabalho da premiada série  9mm: São Paulo? Foram desenvolvidas pesquisas de campo? ESTAS aconteceram antes ou simultaneamente à ELABORAÇÃO do roteiro?

 

Para fazer um produto assim, primeiro é preciso radiografar o assunto para, depois, descobrir o que é essencial. Acompanhamos o trabalho desgastante e, muitas vezes, violento desses profissionais. E destacamos um lado humano da polícia, com fraquezas e dramas. As pesquisas de campo duraram mais de nove meses e envolveram cerca de 30 policiais. Criamos um universo que permitiu a 9mm: São Paulo narrar, de forma realista, o cotidiano de uma equipe de policiais do Departamento de Homicídios.

 

Como vocês veem o cenário da dramaturgia atual, e de que forma preparar os alunos para a criação de “bons universos inteiros”, como define Newton? Um roteirista de cinema talentoso está sempre apto a escrever uma boa série de TV, desde que se prepare? ou certas pessoas TÊM mais afinidade com determinadoS formatoS?

 

Minha aposta é sempre em pesquisar a fundo os assuntos e, aí, criar produtos para várias mídias diferentes. Sempre achamos estranhos cursos como os de Cinema (em que sou formado) ou Jornalismo. Eles ensinam a pessoa a se comunicar, não ensinam o que comunicar. A chave reside na pesquisa e no conceito unificador. O resto é mais simples: basta ter conhecimento das especificidades de cada mídia.

 

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