De pai para filho

Por meio da fotografia, Vitor Marigo nos lembra da importância de preservar a Natureza em um momento crítico para o meio ambiente

Por: Eduardo Torelli

O amor de Vitor Marigo pela fotografia é um amor de pai para filho. Afinal, ao abraçar a profissão, Vitor seguiu os passos do pai, que também era fotógrafo e tinha o olhar voltado para o meio ambiente e questões relacionadas ao tema.

Recentemente, a Shutterstock lançou um vídeo sobre o trabalho do profissional, no qual ele conta como a realidade brasileira e a vida no Rio de Janeiro influenciaram suas fotos

Assista ao vídeo

Neste bate-papo, Vitor fala sobre sua carreira e seu engajamento em causas conservacionistas e ambientalistas. 

VOCÊ TOMOU CONTATO COM A FOTOGRAFIA MUITO CEDO, POR MEIO DO TRABALHO DE SEU PAI, LUIZ CLAUDIO MARIGO. DO EXEMPLO À PRÁTICA, COMO VOCÊ SE TORNOU UM FOTÓGRAFO PROFISSIONAL?

Foi um processo lento. Realmente, cresci com a fotografia muito presente na família, minhas primeiras memórias são na natureza, acompanhando viagens do meu pai. Quando adolescente, pensei em fazer faculdade de engenharia aeronáutica. Desisti e fiz comunicação, pensando em ser publicitário. Concluí a faculdade, mas desisti de ser publicitário e abri uma agência de turismo de aventura com um amigo de infância como sócio. Na vida toda, sempre tive muito contato com a natureza e gostei de fazer trilhas e subir montanhas. Comprei minha primeira câmera Nikon há 12 anos, na mesma época em que comecei a RioXtreme. Até então, pensava na fotografia mais como um hobby. Depois de um ou dois anos fotografando, notei que estava criando um acervo de imagens interessante, com muitas fotos inéditas, de montanhas e ângulos ainda não visitados. Meu pai já gostava do que eu produzia e eu ficava feliz com este feedback, pois ele sempre foi muito exigente, especialmente com os filhos. Mas confesso que eu ainda relutava muito em entrar de cabeça na fotografia, pois não via claramente uma forma de ganhar dinheiro com estas imagens. Foi quando um fotógrafo amigo, Rogério Reis, começou a prestar atenção em meu trabalho e resolveu selecionar minhas fotos para colocar à disposição em seu acervo. Finalmente percebi o valor comercial em minhas fotos, que começaram a ser vendidas em bancos de imagem com os quais entrei em contato. A partir daí, comecei a me considerar um fotógrafo profissional.

SEU PAI ERA UM AMBIENTALISTA E SEU TRABALHO SEMPRE ENFATIZOU AS BELEZAS NATURAIS, ASSIM COMO A NECESSIDADE DE PROTEGÊ-LAS. ESTA TAMBÉM É SUA MISSÃO?

A fotografia nasceu de forma orgânica em minha vida. Nunca existiu um plano. Quando comecei, estava apenas fotografando aquilo que acho bonito, aquilo que amo, aquilo que me atrai visual e espiritualmente. Procuro documentar as belezas naturais não só da minha cidade e estado (Rio de Janeiro), mas de todo o Brasil. Com meu pai, tive a oportunidade de conhecer todos os biomas do país e sou apaixonado por nossa natureza. Acredito que a preservação ambiental sempre passe pela consciência ambiental. Um povo com pouca consciência ambiental jamais lutará por seu meio ambiente. Infelizmente, sinto que o Brasil ainda sofre de uma má-educação ambiental. As pessoas não conhecem nossa natureza. Muitos não sabem identificar uma paisagem brasileira. De forma geral, o brasileiro ainda acha que chique é visitar Nova York ou Paris. Portanto, para haver uma real preservação do meio ambiente em nosso país, é preciso, primeiro, haver conhecimento. Quando desmatam uma floresta que não conhecemos, não sentimos sua falta. Quando se extingue uma espécie que não conhecemos, não sentimos sua falta. A divulgação de nossas belezas naturais é muito importante, já que aproxima o brasileiro da natureza. E o contato com a natureza é a semente da consciência ambiental. Acredito que minhas imagens aproximam as pessoas da natureza, e podem gerar curiosidade e despertar o desejo de conhecer locais bonitos.

EM SUA OPINIÃO, ONDE AS POLÍTICAS AMBIENTAIS PRATICADAS NO BRASIL TÊM FALHADO NO OBJETIVO DE PRESERVAR A NATUREZA?

Acredito no ecoturismo como um aliado poderoso da consciência ambiental (e da geração de empregos). O ecoturismo aproxima as pessoas da natureza e acelera o conhecimento e o amor por nossas belezas naturais. O governo deveria investir mais nessa área, com divulgação dos destinos no Brasil e no exterior, além de capacitação profissional e investimento em infraestrutura, principalmente de transportes. Outra área onde o poder público sempre deixou a desejar é a fiscalização. As unidades de conservação não recebem verba suficiente para manter uma equipe eficaz. Não é má vontade dos servidores públicos dos parques, é falta de braço, mesmo. Sem uma fiscalização eficiente, como vamos inibir os crimes ambientais?

COMO É A SUA PARCERIA COM A SHUTTERSTOCK? SEU TRABALHO ESTÁ NO “SHUTTERSTOCK PRESENTS: ARTIST SERIES” E VOCÊ ACABOU DE FAZER UM FILME. ESTÁ SATISFEITO COM A REPERCUSSÃO ALCANÇADA POR SEU TRABALHO?

Sim, admito que fico feliz. Como fotógrafo independente, faço o que faço com muito amor e dedicação. Já são mais de dez anos nesta profissão, com alguns momentos de frustração e de não saber para onde ir. Hoje, fico feliz de estar encontrando meu caminho e qualquer forma de reconhecimento vai ser sempre bem-vinda.

PARA REGISTRAR A NATUREZA BRASILEIRA EM TODO O SEU ESPLENDOR, QUAIS SÃO AS CÂMERAS E LENTES QUE VOCÊ COSTUMA UTILIZAR?

Sempre usei equipamento Nikon. Tenho uma câmera full frame e uma de sensor cropado. Na full frame, trabalho muito com as lentes 14-24mm, 24-70mm e 70-200mm, todas f2.8. Tenho, também, uma 24-120mm f4, uma 50mm fixa f1.4, uma 105mm f2.8 macro e uma tele 150-600mm da Sigma. Com a câmera cropada, uso muito a 10-24mm DX e a 18-140mm DX, além das lentes full frame. Para situações mais extremas, também utilizo uma GoPro. Meus tripés são das marcas Gitzo e Benro. Tenho mochilas da Benro e da Lowepro.

O DIGITAL TROUXE ALGUMAS MELHORIAS AO CINEMA, NA FORMA DE FERRAMENTAS E SOLUÇÕES QUE FACILITARAM AS VIDAS DOS CINEASTAS E FILMMAKERS. QUAL FOI O IMPACTO DO DIGITAL NA FOTOGRAFIA?  

Na época em que só havia a fotografia analógica, ou seja, com filme, era preciso escanear o filme para se obter um arquivo digital. Sabemos que a cada processo que você submete sua foto, você perde qualidade. Por exemplo: um arquivo digital tem mais qualidade que uma foto impressa, que, por sua vez, tem mais qualidade que uma foto impressa escaneada, e por aí vai. Portanto, na fotografia digital, eliminando uma das etapas (o escaneamento), você tem um arquivo digital com mais qualidade. Além disso, a fotografia digital trouxe mais agilidade ao fluxo de trabalho do fotógrafo. Antes, você fazia 36 fotos por rolo de filme até ter que trocar (e perder tempo). Hoje, você faz milhares de fotos em um cartão de memória. Antes, você precisava esperar dias ou semanas para ver suas fotos reveladas. Hoje, você vê instantaneamente na câmera, permitindo ajustes em tempo real. Antes, você precisava avaliar suas fotos em uma mesa de luz ou projetor, para decidir manualmente qual vai guardar e qual vai descartar. Hoje, você faz isso rapidamente no computador. Antes, você precisava criar e imprimir mini etiquetas para colar manualmente na moldura dos seus slides para organizar seu arquivo. Hoje, você faz a organização rapidamente por blocos de imagens no computador. E esses são apenas alguns exemplos de como a fotografia digital agiliza a vida do fotógrafo. Macetes como stacking de layers para startrail e HDR’s também são interessantes, mas devem ser usados com moderação.

TODO FOTÓGRAFO COSTUMA TER REFERÊNCIAS QUE INSPIRAM O SEU TRABALHO. QUAIS SÃO OS FOTÓGRAFOS QUE VOCÊ MAIS ADMIRA?

Meu pai, Luiz Claudio Marigo, foi, e sempre será, minha maior referência. Não só pela qualidade das imagens, mas também pelo amor que dedicava ao trabalho, a seriedade como organizava e a ética como executava suas expedições. Dito isso, no Brasil admiro muito o trabalho do Custódio Coimbra (fotojornalismo), João Marcos Rosa (natureza), Ivo Gonzalez (esportes) e Luciano Candisani (natureza). Lá fora, curto demais o trabalho do Keith Ladzinski (natureza e aventura), Daniel Kordan (paisagens), Bob Martin (esportes), Jimmy Chin (aventura), Thomas Peschak (foto sub), Paul Nicklen (natureza) e Steve McCurry (povos). Uma galera brasileira mais nova, e na qual vale a pena ficar de olho, são os fotógrafos: Marcelo Santos Braga (retratos), Ricardo Moraes (fotojornalismo), Bruno Graciano (aventura) e Edson Vandeira (aventura).

QUE CONSELHOS VOCÊ DARIA A UM FOTÓGRAFO QUE ESTÁ INICIANDO A CARREIRA AGORA, E QUE QUEIRA SEGUIR OS SEUS PASSOS?

A carreira de fotógrafo independente tem algumas dificuldades. Componho minha renda em diferentes frentes, como vendas por bancos de imagem, matérias em revistas, vendas para publicidade, jobs comerciais, projetos etc. No entanto, para encontrar meu lugar, passei por muitos anos difíceis. Minha dica, portanto, é apenas o que eu fiz: vá fotografar o máximo possível! No começo, investi todo o meu tempo na prática da fotografia, visitando os quatro cantos do Rio de Janeiro e viajando bastante pelo Brasil. Nesse período, não ganhava dinheiro nenhum praticamente, mas dominei a técnica, o fluxo de trabalho, fui conhecendo o mercado e fazendo contatos, fui expandindo meu acervo. Sempre senti que, para encontrar meu caminho, era preciso começar a andar. Portanto, se você ama a fotografia e não sabe direito para onde ir, invista seu tempo em praticá-la! Uma hora o caminho aparece. Ou não. Mas vale a pena? É claro! A alegria de sentir amor pelo que você faz ofusca as frustrações. E sucesso não se mede pelo número de clientes ou trabalhos realizados. Sucesso se mede por felicidade.

ALÉM DA NATUREZA, QUE OUTROS TEMAS O INSPIRAM COMO FOTÓGRAFO? E POR QUÊ?

Minha outra grande paixão são os esportes de aventura em geral. Adoro as maluquices que o ser humano é capaz de fazer. E tenho um carinho especial pelo montanhismo. Encontro a maior alegria fotografando escalada ou highline (aquele slackline no alto das montanhas). Fora da fotografia, sou apaixonado por música e cinema.

Fotos de Vitor Marigo

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