DRONES: VAI ENCARAR?

Será que é hora de investir em um drone e incrementar suas captações? Nicolas Tommasino, um expert no assunto, esclarece as dúvidas mais comuns sobre esses equipamentos

 

Por Fernando Vitolo Fotos Nícolas Tommasino

 

Organizada pela MundoGeo, a DroneShow Latin America é uma feira que reúne mais de 100 marcas de fabricantes nacionais, importadores, prestadores de serviço e soluções para o segmento de drones. O evento teve uma programação intensa, incluindo cursos, seminários e debates sobre o tema. Com público estimado de 4 mil participantes, a DroneShow aconteceu no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo (SP), entre os dias 10 e 12 de maio.

Um dos debates mais interessantes versou sobre a regulamentação do uso dos drones e contou com a participação da ANAC (Agência Nacional da Aviação Civil) e do DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo). O foco recaiu sobre questões como a segurança do espaço aéreo, das pessoas e do patrimônio, credenciamento de pilotos e homologação de equipamentos nacionais e importados. Ainda, em um seminário, foram apresentadas as aplicações potenciais dos drones em segurança pública e privada e no combate e prevenção aos crimes. As Forças Armadas apresentaram os projetos de monitoramento com drones e a Defesa Civil levantou a questão sobre uso dos drones na prevenção de desastres.

De olho na relevância do tema, conversamos com Nicolas Tommasino, especialista no assunto, que participou da cobertura da DroneShow.

 

PEQUENAS E GRANDES PRODUÇÕES TÊM FEITO USO DE DRONES. A QUE SE DEVE ESSA TENDÊNCIA?

O mercado de drones, ou VANT’s (veículos aéreos não-tripulados) com tecnologia para produções de videos e fotografias, vem se aperfeiçoando nos últimos anos. O conjunto eletrônico que combina uma captação aérea com profissionalismo está cada vez mais eficiente. Os drones se tornam cada vez mais estáveis em seus voos, e contam com recursos inteligentes para a realização de imagens com alta resolução. Mesmo os aparelhos que já vêm com as câmeras acopladas de fábrica (que, geralmente, são menores e com qualidade de resolução inferior às das câmeras profissionais). Outro fator que está influenciando essa tendência é a facilidade de adquirir um equipamento desses pela Internet. Mas isto poderá mudar nos próximos meses, quando começar a vigorar a nova regulamentação da ANAC e DECEA (órgãos que controlam o espaço aéreo).
HÁ DIVERSOS MODELOS DE DRONES. ALGUM DELES É MAIS RECOMENDADO OU UTILIZADO?

A melhor resposta a essa pergunta varia de acordo com o propósito e necessidade de cada pessoa. Então, antes de realizar a compra, é importante ter bem claro os objetivos que se quer atingir com aquele determinado VANT. Para citar uma referência de mercado, a empresa chinesa DJI é uma das líderes e com maior presença em todo o mundo, com sua linha de entrada Phantom. Quem deseja um equipamento maior, com a possiblidade de um segundo operador exclusivo para a camera, pode considerar o Inspire One, que também é muito versátil e atende bem aos padrões de excelência.
OS DRONES NORMALMENTE JÁ VÊM COM CÂMERA? OU POSSO ACOPLAR QUALQUER CÂMERA AO EQUIPAMENTO?

Temos, hoje, uma grande variedade de produtos, o que, certamente, deixa as pessoas em dúvida na hora de fazerem suas escolhas. Há modelos que já vem com as câmeras instaladas e fixas. Por outro lado, também há a opção de trocar as lentes em alguns outros modelos. Também é possível acoplar sua câmera DSLR e captar imagens com qualidade ainda melhor. No entanto, para suportar equipamentos maiores e mais pesados, as aeronaves devem ser maiores, o que agrega um custo mais elevado. Para iniciantes, vale a pena iniciar os treinos em um drone sem camera, até estar familiarizado com os comandos e a sensibilidade do modo de pilotagem.

 

POSSO VISUALIZAR EM TEMPO-REAL AQUILO QUE ESTOU GRAVANDO? OU É NECESSÁRIO ALGUM EQUIPAMENTO EXTRA PARA ISSO?

Sim. A tecnologia embarcada nos drones mais modernos permite que o piloto veja em tempo-real as imagens da câmera por meio de rádio-frequência. Essa modalidade chama-se FPV (first person view, ou “visão em primeira pessoa”). O piloto pode voar sem obrigatoriamente estar com o VANT em seu campo de visão. Para uma experiência ainda mais imersiva, os óculos de realidade virtual proporcionam uma pilotagem incrível. Nos equipamentos RTF, que não vêm com o visor, os próprios celulares podem ser utilizados, embora o mais adequado seja usar um tablet para esse propósito especifico.
SEM ACESSO À CÂMERA, COMO FUNCIONA A REGULAGEM DO EQUIPAMENTO, INCLUINDO: ABERTURA, OBTURADOR E FOCO?

Assim como os comandos de pilotagem (velocidade, direção e diferentes modos de voos) as opções de configuração da câmera são possíveis graças aos transmissores e receptores de alta tecnologia embarcados nos drones. Um conjunto de processador, software e sensores (como giroscópios e acelerômetro) permite ajustes de ISO, velocidade do obturador e, em alguns modelos, foco e zoom. Quem busca ajustes mais precisos precisará desembolsar valores consideráveis.
OS DRONES FUNCIONAM A BATERIA OU COM ALGUM TIPO DE COMBUSTÍVEL? E QUAL É SUA AUTONOMIA DE VOO?

Existem diversos tipos de combustíveis para os drones. São mais comuns baterias de Li-Po (íon-polímero). A vantagem dessa opção é poder oferecer mais energia com tamanhos menores, o que, no caso dos VANTS, é um fator fundamental. Em média, os drones mais simples têm uma autonomia de 5 a 8 minutos de voo. Alguns modelos da DJI movidos a baterias de Li-Po, a título de referência, voam, em média, de 20 a 28 minutos. Os drones maiores, com mais autonomia e velocidade, geralmente utilizam gasolina e outros derivados do petróleo. Estão sendo realizados testes na busca por alternativas que proporcionem maior autonomia de voo e menor custo de reabastecimento – por exemplo, os equipamentos movidos a hidrogênio, que podem ter uma autonomia até seis vezes maior que as baterias convencionais.
A QUE ALTURA CHEGAM OS DRONES?

Diversos fatores influenciam na altura e na distância desses equipamentos. Para ilustrar melhor, usaremos, como base, a linha de entrada da DJI, conhecida como Phantom. Ela acaba de ser contemplada com o lançamento Phantom 4. Esses equipamentos de uso profissional oferecem ao piloto voos de aproximadamente 500 a 2 mil metros de distância e de cerca de 500 metros de altura (limitado eletronicamente pelo aplicativo). E têm seu funcionamento garantido pelo fabricante em altitudes de até 6 mil metros. Sendo assim, é possível realizar voos bem altos. No entanto, já estão sendo tomadas medidas de segurança e regulatórias para que os voos não excedam os 400 pés (120m).
É POSSÍVEL TRAÇAR UMA ROTA COM O DRONE?

Sim, e com uma precisão incrível. Esses ajustes podem ser feitos antes mesmo da decolagem, durante o plano de voo. Nos VANTS com FPV, câmeras embarcadas no equipamento e tela para visualização em tempo-real, é possível, através do aplicativo de voo, estabelecer diversos pontos no mapa e, assim, definir uma rota de voo. No entanto, deve-se sempre levar em conta que fatores como rajadas de vento influenciam no consumo de energia dos drones para se manterem nas rotas traçadas. Logo, tenha sempre uma margem de segurança e evite voar perto de obstáculos e com cargas abaixo de 30% de suas baterias.
O DRONE PODE SEGUIR ALGUÉM?

Os drones que possuem essa funcionalidade podem fazê-lo de duas formas: seguindo o piloto (nesse caso, acompanhando o rádio transmissor); ou seguindo o objeto/pessoa escolhido por meio da tela de visualização. Nesse caso, a câmera do drone definirá um objeto/pessoa alvo e dará início ao modo de voo conhecido como active track nos equipamentos da DJI, linha Phantom 4.
O MANUSEIO DESSES EQUIPAMENTOS É FÁCIL?

Os modelos mais utilizados contam com um suporte bastante profissional dos seus fabricantes, principalmente por terem ciência da responsabilidade de operar tais VANT’s. Sendo assim, é fundamental ler com cuidado todos os manuais e atentar às recomendações dos equipamentos antes do primeiro voo. Uma sugestão, para os iniciantes, é começar com drones menores, de custo mais acessível, já que qualquer queda pode comprometer o voo. Os drones maiores, com câmeras acopladas, devem ser operados por pessoas maiores de 18 anos. Para ter uma experiência ainda mais satisfatória, faça um curso de pilotagem com operadores experientes.
OS DRONES TÊM ALGUM SISTEMA DE SEGURANÇA PARA O CASO DE UMA EVENTUAL FALTA DE COMBUSTÍVEL OU BATERIA?

Existem, em alguns modelos, medidas de segurança e de alerta. Nos drones da DJI, o software fornece uma série de informações e ajustes para a longevidade da bateira e do equipamento. Alertas durante o voo permitem que o piloto agilize um procedimento de pouso e evite uma eventual queda. Outra novidade interessante é o pouso automático em caso da bateria chegar a um nível crítico, evitando que o aparelho despenque do ar. No entanto, o equipamento simplesmente desce em linha reta, o que, mesmo assim, pode não ser o mais adequado, dependendo da situação. Portanto, evite voar com cargas baixas. O risco é maior e a vida útil das baterias é bastante reduzida.
HÁ ALGUMA RECOMENDAÇÃO PARA VOAR?

Evite voar em dias com muito vento. Além de ser mais difícil controlar a máquina, o consumo de bateria aumenta consideravelmente. Também evite dias muito nublados, em que a possibilidade de chuva é alta, pois a maioria dos equipamentos não é resistente à água. Voe sempre de dia. Evite voar onde existam concentrações de pessoas, ou consiga uma autorização de todas elas para sobrevoá-las. Não se deve, ainda, sobrevoar áreas com prédios, antenas, igrejas, presidios, delegacias e propriedades privadas de terceiros. Realize voos com distância mínima de 30 metros das pessoas e altura máxima de 120 metros – e fora de centros urbanos, a menos que se tenha uma autorização. Utilize produtos originais e verifique a integridade física do aparelho, de simples parafusos às hélices e motores. Se detectar alguma anormalidade, não decole o VANT sem um diagnóstico completo do equipamento. Voe sempre com uma pessoa ao lado, para orientá-lo e ser o seu porta-voz, caso alguém se aproxime (assim você não se desconcentra do trabalho). Realize com frequência a calibração de bússola antes do voo e aguarde o sinal do maior número possível de satélites, pois, assim, seu GPS poderá trazer o equipamento de volta ao ponto de onde decolou, no caso de uma emergência. Tenha sempre o drone em sua linha de visão e, no máximo, a uma distância de 500 metros.
NO BRASIL, HÁ ALGUMA PROIBIÇÃO OU RESTRIÇÃO QUANTO AOS DRONES?

Há uma regulamentação específica para os drones tramitando – porém, como esse documento ainda não foi publicado, a ANAC e o DECEA, órgãos responsáveis por regular o espaço aéreo brasileiro, determinaram algumas regras de uso. A publicação vigente é o ICA 100-40, que trata dos “Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro”. O documento está em vigor desde novembro de 2015 e deve ser obedecido até que haja uma atualização e definição de novas regras.
ALGUM PERÍODO DO DIA É MAIS FAVORÁVEL PARA SE VOAR COM UM DRONE?

Por conta das correntes de ar, recomenda-se realizar os voos logo no início da manhã, evitando-se horários entre 11h00 e 13h00 e finais de tarde. Outra vantagem de realizar voos pela manhã é que costuma haver poucas pessoas nos arredores. Observe, ainda, os horários em que há menos possibilidade de chuvas ou ventos fortes.
VALE A PENA INVESTIR EM UM DRONE?

Hoje, há drones para todos os gostos e bolsos. A facilidade de adquirir um modelo é cada vez maior. A dica é escolher um que atenda bem às suas necessidades. Lembrando que a manutenção desses equipamentos deve ser realizada por especialistas e que seus componentes têm vida útil. Antes de comprar um drone, faça um voo teste em alguma escola. Se você tiver critérios e objetivos bem-definidos e achar que eles o motivam a comprar um drone, a resposta é “sim”. O investimento é válido!
TREINAMENTO É ESSENCIAL PARA QUEM ALMEJA TER UMA DESSAS MÁQUINAS?

Sim. Os VANT’s envolvem muitos detalhes, dicas, regras e movimentos. Por se tratarem de objetos com alto valor agregado (e exigirem muita responsabilidade), os treinamentos estão cada vez mais difundidos e são recomendados a todos. Para facilitar a vida do iniciante, há cursos a distância (online), nos quais já é possível entender os fundamentos e se preparar para as aulas práticas.

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