CINEMA 3D: AS DIMENSÕES DO MUNDO REAL

A sigla “3D” está em alta, o que pode dar a impressão de que este conceito é fruto das últimas conquistas tecnológicas. Mas, trata-se de um conceito antigo

 

Por Eduardo Baptista

Fotos: Divulgação

 

Para quem trabalha com câmeras no registro de imagens, é familiar a noção dos diferentes tipos de resultados proporcionados por diferentes tipos de lentes. Algumas lentes “enxergam” uma área maior que outras e são denominadas grande-angulares, exatamente, devido ao seu maior ângulo de visão. Entre as lentes do tipo grande-angular encontramos, ainda, variações: algumas têm ângulo de visão maior que outras. No limite extremo aparecem as lentes fisheye: recebem esse nome porque seu ângulo de visão imita o ângulo de visão do olho da maioria dos peixes. Eles veem uma área de 180 graus com cada olho, o que significa que têm amplo domínio do que acontece ao redor.

Nossos dois olhos também servem para proporcionar uma ampliação de nosso campo de visão. O que vemos com os dois é mais do que o que vemos apenas com um. Considera-se que a visão de um único olho, para a maioria das pessoas, gira em 90 graus, o que pode ser comprovado fechando-se um dos olhos e medindo-se mentalmente o campo de visão. Mas essa não é a única nem a principal característica da nossa visão com dois olhos: o mais importante é que a visão de um olho se sobrepõe parcialmente à do outro olho. Basta olhar para frente e fechar alternadamente um e outro olho para perceber isso. Existe uma área vista apenas por um dos olhos e outra enxergada pelos dois olhos. E é essa área com visão sobreposta a responsável por nos proporcionar a visão em três dimensões: largura, altura e profundidade, representada pela sigla “3D”.

Ela pode ser facilmente percebida se olharmos para nossas mãos e fecharmos / abrirmos qualquer um dos olhos: em uma situação estaremos percebendo o volume e os contornos de profundidade das mãos; em outra, somente um recorte em duas dimensões, “2D”. Se tentarmos imitar essa visão com duas câmeras fotográficas posicionadas de modo a imitar o posicionamento de nossos olhos, obteremos duas fotos distintas, cada uma “vendo” determinado objeto um pouco mais de lado que a outra. Se sobrepusermos as duas, em um software que permita a sobreposição de imagens, deixando-as ligeiramente transparentes, veremos que não aparecerá o efeito 3D.

 

VISÕES SEPARADAS

Isto ocorre porque a noção das três dimensões é proporcionada por nosso cérebro, que funde as duas imagens diferentes vistas por cada um dos olhos em uma só, transmitindo à área responsável pelo entendimento e análise das informações visuais a ideia de volume em uma forma contínua do objeto. O segredo para reproduzir artificialmente essa visão, assim, é fornecer a cada olho a visão que este teria se estivesse na realidade em questão – o local de uma filmagem, por exemplo. Neste local, cada olho teria a visão ligeiramente deslocada para um dos lados, ou seja: a distância de cada olho no rosto humano. A tarefa, portanto, consiste em registrar simultaneamente duas visões separadas lateralmente umas das outras, o que se traduz em utilizar duas câmeras gêmeas, “grudadas” lateralmente.

A segunda etapa, complementar à primeira, é fazer chegar a cada olho dos assistentes na platéia apenas uma dessas imagens, o que leva a diferentes tecnologias, que vão desde o uso de filtros colocados sobre os olhos de forma que uma das duas imagens projetadas não seja vista (alternadamente a outra imagem para o outro olho), filtros, estes, montados sob a forma de óculos ou telas especiais (ainda em fase de protótipos) que não deixam um olho ver o que o outro vê. No meio do caminho entre essas duas tecnologias há diversas outras, já abandonadas ou ainda em desenvolvimento.

Mas as tentativas de capturar e mostrar imagens em 3D – muitas com sucesso experimental, mas não comercial – remontam há muito tempo. Afinal, quem poderia imaginar que três anos antes de a Princesa Isabel assinar a Lei Áurea (1888), um inventor estadunidense (Frederick Eugene Ives) demonstrava, em uma exposição na Filadélfia, um sistema de fotografia colorida em 3D? E que, anos mais tarde, no início da década de 1920, juntamente com seu colega Jacob Leventhal, produziria uma série de filmes em 3D denominada Plastigrams?

A partir daquele começo de século, registraram-se diversas experiências, inclusive exibições comerciais temporárias. Dizem os historiadores que o primeiro filme em 3D exibido comercialmente teria sido The Power of Love, no Ambassador Hotel, em Los Angeles, em 1922. Na sala de exibição era empregado o processo de duas imagens simultâneas sobrepostas na película e os expectadores utilizavam óculos contendo os filtros para que cada vista captasse apenas uma das projeções. Para os padrões atuais, a ilusão era bastante precária, devido às dificuldades na construção desses filtros em associação com a separação das imagens nas películas feitas através de filtros nos projetores e na sincronização dos mesmos. Mas, como ninguém vira algo parecido, a sensação era muito real.

 

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