
ECLETISMO A TODA PROVA
Cineasta, fotógrafo e montador, o diretor de cena Roguan é um profissional completo
Tudo começou na infância, quando a mãe o levou ao cinema pela primeira vez: fascinado com as imagens que viu na tela, o fotógrafo, cineasta e montador Roguan (atualmente, diretor de cena na produtora Yourmama) se deu conta de que seu futuro estava na área audiovisual. Era o início de uma jornada que o levaria a se tornar um nome respeitado nos segmentos de publicidade e de produção, além de um profissional eclético: formado pela Academia Internacional de Cinema, nosso entrevistado realizou trabalhos para clientes como Jack Daniels, Natura, Santander e Ellus e dirigiu projetos autorais premiados. Também trabalhou com a preparadora de elenco Fátima Toledo em produções como Tropa de Elite.
Na Yourmama, Roguan espera continuar a exercitar todo o seu ecletismo, inclusive no nicho de cinema. “Cheguei aqui em um momento de amadurecimento profissional”, afirma o diretor. “Quero construir um trabalho sólido com a produtora, então, há ‘chão’ para muitos projetos. O sonho maior é realizar meus longas-metragens na casa”.
O QUE O ATRAIU PARA O MUNDO DA FOTOGRAFIA E DO CINEMA? O INTERESSE POR ARTE SE MANIFESTOU CEDO EM SUA VIDA? EM CASO AFIRMATIVO, ISTO SE DEU POR INFLUÊNCIA DE ALGUÉM?
No cinema, minha mãe me levou assistir à Hamlet quando eu era criança. Não sei o que ela queria ali, mas conseguiu. Fiquei impressionado. A questão do fantasma e de todo aquele clima do filme me fascinou. Virei um cinéfilo. Foram madrugadas adentro vendo de tudo. A fotografia veio depois, quando comecei a praticar e trabalhar o olhar. Mas a arte que me atraiu para a arte foi a música, que é a minha base. Acho que minhas influências vieram do estímulo que minha mãe sempre deu no que se refere à arte em geral, e por meu pai ser um comunicador e trabalhar na TV. Sinto que foram símbolos fortes.
VOCÊ SEMPRE QUIS SER DIRETOR? OU, A PRINCÍPIO, PENSAVA APENAS EM SE DEDICAR À FOTOGRAFIA? COMO OCORREU A TRANSIÇÃO DE UM SEGMENTO PARA O OUTRO?
Decidi pela direção bem cedo. Tinha vontade de ser ator, mas percebi que, para isto, eu não teria toda a autonomia no depoimento. Assim, optei pela direção, para que eu pudesse expressar de forma mais completa o que queria. Comecei a criar filmes aos meus 14 anos, com uma câmera VHS, e a direção se tornou o foco. A fotografia foi uma arte paralela, na qual fui me aprofundando com mais calma. Muito na prática e no experimental. Foi construída de forma mais pessoal, livre. E nunca me senti em transição: os segmentos sempre estiveram relacionados – em alguns momentos, juntos, em outros, não.
EM 2017, VOCÊ SE TORNOU DIRETOR DE CENA DA YOURMAMA. O QUE TEM ACHADO DA EXPERIÊNCIA? QUAIS AS PEÇAS QUE MAIS GOSTOU DE FAZER PARA A PRODUTORA? E QUE PROJETOS AINDA ESPERA REALIZAR JUNTO A ELES?
A Yourmama é especial demais, um lugar pelo qual tenho grande carinho e com vários significados, muito importantes. E chego à casa em um momento de amadurecimento profissional. É o encaixe. Tem sido uma grande realização. O filme da Starbucks foi o que tive mais prazer em realizar. Tudo fluiu. E sim, quero construir um trabalho sólido com a produtora, então, tem chão para muito projeto – o sonho maior é realizar meus longas na casa.
MUITAS VEZES, EM UMA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL, O DIRETOR SE ENCARREGA DA REALIZAÇÃO PROPRIAMENTE DITA E DELEGA AO DIRETOR DE FOTOGRAFIA A MISSÃO DE DEFINIR O “LOOK” DAS CENAS NO QUE SE REFERE À LUZ, AOS ENQUADRAMENTOS E A OUTROS ELEMENTOS ESTÉTICOS. POR SER FOTÓGRAFO E DIRETOR, VOCÊ ACUMULA ESSAS FUNÇÕES?
Depende do filme. Se a fotografia tem a ver com a minha estética. Se a demanda de trabalho é viável para assumir as duas funções. Mas me criei como filmmaker, então, fiz muito a direção, a fotografia e a montagem dos meus filmes, além de, muitas vezes, produzir o que fazia. Acabei me acostumando às múltiplas funções. Tornou-se algo natural e parte da linguagem.
VOCÊ TEM UM CURRÍCULO BASTANTE ECLÉTICO: É FOTÓGRAFO, CINEASTA E POSSUI EXPERIÊNCIA COM MONTAGEM E DIREÇÃO DE ATORES. ESSE ECLETISMO DERIVA DO TIPO DE FORMAÇÃO QUE VOCÊ TEVE? OU SURGIU A PARTIR DE SUA CURIOSIDADE EM EXPLORAR TODOS OS NICHOS DA ÁREA DE PRODUÇÃO?
Foi acontecendo. Percebi que diversificar dava mais caminhos, mais conexões. Mas a busca vem da necessidade de expressão e realizar. Ter independência, autossuficiência. Isso me instigou demais. É um conceito forte que levo. Acho que vem muito do aprendizado como filmmaker, também. E minha formação foi na prática. Preciso sentir para acreditar, experimentar. Assim, comecei a juntar um monte de coisas, que começaram a se conectar e a criar uma forma própria, que ainda é muito difícil de explicar e sintetizar.
O QUE ACHOU DE TRABALHAR COM A PREPARADORA DE ELENCO FÁTIMA TOLEDO? QUE IMPACTO ESSA EXPERIÊNCIA TEVE EM SUA CARREIRA?
Com certeza, foi um dos períodos mais incríveis e intensos da minha vida. Aprendi trabalhos corporais, meditações e outras práticas. E também, como chegar à emoção, fazer com que esta se expresse de verdade – é a minha escola como diretor. Trabalhar com Fátima foi uma experiência profunda e transformadora.
VOCÊ DIRIGIU PEÇAS PUBLICITÁRIAS E CURTAS INDEPENDENTES. QUAIS AS VANTAGENS E DESVANTAGENS QUE ESSES DOIS TIPOS DE AUDIOVISUAL OFERECEM?
A vantagem da publicidade é que ela é rápida e objetiva. Você tem que olhar para frente e entregar o projeto. Trabalhar o desapego, estimular a alta performance e a criação de forma dinâmica. A desvantagem é não ter autonomia. Já no caso da arte independente, a vantagem é a liberdade. É trabalhar com o coração e, ao longo desse processo, ter tempo de maturação para lapidar e apurar. A desvantagem, muitas vezes, está nos recursos disponíveis para o trabalho. A não cobrança da entrega pode virar um “parto” longo e cansativo, que inverte o jogo da criação.
HOJE, ALÉM DA PUBLICIDADE E DO CINEMA, HÁ BASTANTE ESPAÇO PARA OS REALIZADORES MOSTRAREM SEUS TALENTOS NA INTERNET E NA TV (POR MEIO DAS SÉRIES E WEB SÉRIES). ESTES FORMATOS O ATRAEM? AS MÍDIAS DIGITAIS E O STREAMING SÃO CAMPOS QUE VOCÊ GOSTARIA DE EXPLORAR MAIS A FUNDO, NO FUTURO?
Com certeza. Tudo muda e sempre virão novas possibilidades. O importante é criar, se comunicar, trocar – usar todos os acessos possíveis da comunicação para concretizar ideias e sonhos.
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