Na Mostra Tiradentes foram exibidos mais de 100 filmes

Mostra Tiradentes abriu o calendário audiovisual brasileiro

Abertura da Mostra Tiradentes contou com as presenças do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e do Prefeito de Tiradentes, Nízio Barbosa

Um dos mais prestigiados e tradicionais eventos do setor, a Mostra Tiradentes, em sua 24ª edição, abriu oficialmente o calendário audiovisual do País em 2021. Realizada entre os dias 22 e 30 de janeiro, a mostra aconteceu em ambiente virtual por conta do cenário de pandemia. Essa restrição, porém, não tirou o brilho e a pompa do evento, que voltou a surpreender positivamente o público.          

Foram mais de 100 filmes exibidos (incluindo dezenas de longas e curtas-metragens, além de dois médias) em pré-estreias e mostras temáticas. A programação foi completada com o 24º Seminário do Cinema Brasileiro (que recebeu 112 convidados), shows e exposições.

Processos de criação

Prestigiaram a 24a Mostra de Cinema de Tiradentes personalidades como Romeu Zema (Governador de Minas gerais), Nízio Barbosa (Prefeito de Tiradentes) e Leônidas Oliveira (Secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais), que participaram do lançamento da mostra, no dia 22. Coordenado por Raquel Hallak e Quintino Vargas, o evento foi apoiado por parceiros como CBMM, COPASA, ITAÚ, CSN, CEDRO MINEIRAÇÃO, CIMENTO NACIONAL, FIEMG e SESC em Minas.

Na abertura da Mostra, os grandes destaques foram a apresentação do eixo temático de 2021 (“Vertentes da Criação”) e uma homenagem à cineasta e multiartista Paula Gaitán. A performance teve roteiro, direção e fotografia assinados por Chico de Paula e fotografia, montagem e finalização creditadas a Janaína Patrocínio.  

“Queremos refletir sobre o que nos motiva a criar, sobre os nossos processos de criação, sobre o que nos faz caminhar”, disse Chico de Paula. “Somos um povo de muitas crenças, de diferenças profundas e radicais. Precisamos descobrir que povo queremos ser e onde queremos chegar”.

A apresentação teve trilha sonora do Barulhista, locução de Grazi Medrado, atuação de Gibi Cardoso, músicas de Maurício Tizumba e Júlia Dias e participação especial da Guarda do Gongado Nossa Senhora do Rosário Tia Anastácia, Sandra Mara, Nado Rohrmann, Expedito Jonas de Jesus, José Trindade Xavier, Marcos Gabriel Gomes Santana, Mariana de Fátima Santana, João Goulart Silva, Mestre Zinho.

Artista eclética

“A entrega de cada artista e convidado traz para a abertura a mesma intensidade que vemos na fé e nos mais diversos processos criativos que nos conferem identidade, que nos significa como nação”, acrescentou Chico de Paula. “Em cada uma das performances, o fio condutor que se mostra mais perceptível é o amor pelo que se faz”.

Concluída a performance de abertura, o evento promoveu o debate “O percurso de Paula Gaitán”, mediado pelo coordenador curatorial Francis Vogner dos Reis. A cineasta homenageada participou do debate e sua obra, marcada pelo ecletismo (ela realizou longas, curtas e médias, além de filmes híbridos e documentários musicais) foi comentada pelos convidados Ava Rocha (cantora e compositora), Eryk Rocha (cineasta), Clara Choveaux (atriz) e Arrigo Barnabé (cantor e ator).

A edição 2021 confirmou a importância da Mostra Tiradentes para o cinema e a cultura brasileiras, reafirmando o compromisso da iniciativa em sempre oferecer ao público o que há de mais inovador em termos de produção local.

Vencedores

O filme baiano Açucena, de Isaac Donato, foi o vencedor de melhor longa-metragem. A cerimônia de encerramento, transmitida pelo site do evento na noite de sábado (30/01), confirmou a forte presença e prestígio do cinema baiano este ano. O prêmio foi concedido pelo Júri Oficial, formado por críticos, pesquisadores e profissionais do audiovisual.

Em fala transmitida em vídeo, a integrante do júri, cineasta e curadora Graciela Guarani apontou que o filme “celebra e movimenta as imagens para dar a ver o que não é da ordem do visível”, pois “acumula delicadamente um estranho familiar, evocando uma infância ou maternidade coletivas”. Diz ainda: “Com dissonância misteriosa, estimulada a partir do cotidiano de sorrisos, gestos e falas de uma comunidade envolta numa festa-ritual, premiamos um filme de partilha de sensibilidades”.

O Troféu Carlos Reichenbach, dado pelo Júri Jovem ao melhor longa da Mostra Olhos Livres, foi para Nũhũ yãg mũ yõg hãm: essa terra é nossa!, de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu e Roberto Romero, realizado em Minas Gerais e premiando, pela segunda vez consecutiva na seção, um filme da dupla de cineastas maxakali (em 2020 o ganhador foi Yamiyhex – As Mulheres-espírito).

Na justificativa, o Júri Jovem, formado por estudantes, defendeu que “ao traçar um mapa não localizável na iconografia, os sussurros e a oralidade tornam-se imagens. Suspensas e bifurcadas, elas desestruturam os imaginários, modificando a narrativa da lógica visual colonial”. Disseram ainda que, “em seu percurso, o mapeamento da perda possibilita a criação de traçados cartográficos dentro de uma inventividade singular que concebe temporalidades próprias, regidas por vestígios coletivos de pertencimento”.

O Prêmio Helena Ignez 2021, oferecido pelo Júri Oficial a um destaque feminino em qualquer função nos filmes das Mostras Aurora e Foco, foi dado à diretora e roteirista Ana Johann, que assinou A Mesma Parte de um Homem (PR). A integrante do júri e pesquisadora Mariana Souto, disse que a “maturidade demonstrada em um primeiro longa-metragem de ficção e a forma consistente como a diretora maneja os jogos ficcionais, desdobrando narrativas em outras narrativas” foram essenciais para a escolha da premiada, graças ao seu trabalho no filme concorrente.

Na Mostra Foco, o Júri Oficial escolheu o curta-metragem Abjetas 288 (SE), com direção de Júlia da Costa e Renata Mourão. A justificativa, lida pela crítica teatral Soraya Martins, integrante do Júri Oficial, apontou que “em um panorama de filmes que respondem a um caos político e social que beira o apocalipse, o filme deste ano reconfigura a transgressão estética do cinema de invenção e aponta para um futuro combativo e vibrante”, dizendo que o “trabalho inquieto de direção e o ritmo da montagem do filme constroem uma estética do transbordamento”.

O Prêmio Canal Brasil de Curtas, que oferece R$ 15 mil a um curta também da Mostra Foco em júri formado pelo próprio canal, foi para 4 Bilhões de Infinitos (MG), de Marco Antônio Pereira.

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