Cinecipó – Festival do Filme Insurgente ganha sua primeira edição online
Mostra pode ser acompanhada até o dia 28 de dezembro e tem forte presença indígena, negra e LGBTQIA+
Até o dia 28 de dezembro, o público pode acompanhar a 9ª edição do Cinecipó – Festival do Filme Insurgente, idealizado por Cardes Monção Amâncio e Daniela Pimentel de Souza. O evento estreia no digital com o objetivo de fazer o público refletir e consumir as produções audiovisuais nacionais realizadas por indígenas, negros, LGBTQIA+ e brancos dissidentes aliados nas lutas.
“A proposta de curadoria desta edição do Cinecipó foi elaborada através de muito diálogo, o que considero ser o ponto forte da edição”, afirma a curadora Carina Maciel. “A inserção da Curadoria Jovem no Festival e a rotatividade dos nossos discursos sobre os filmes durante o processo criativo se deu de uma maneira coletiva, em que nossos olhares lampejavam nas insurgências dos filmes inscritos e isso deveria ser trazido nos intensos debates, quando nos reunimos de forma online. O grupo heterogêneo que somos construiu quatro eixos a partir do olhar, da escuta e do tato que os títulos convocavam”.
Relevância
Com uma proposta abrangente, o evento quis dar relevância a projetos que vão além das fronteiras ao selecionar, entre 500 inscritos, filmes que mergulhavam nas várias culturas existentes no Brasil. Divididos em quatro mostras, os títulos foram agrupados por eixos: “Derivas” (filmes que trazem algum aspecto de performance); “Retomadas” (produções que se apropriam de arquivos ou reconstroem uma narrativa por meio de outras histórias e imagens); “Vigílias” (obras que partem do cinema mais realista que enfrenta alguma questão); e “Sonhos” (narrativas que são subvertidas de alguma forma).
Na abertura, o destaque foi o filme colombiano Nossa Voz de Terra – Memória e Futuro, dirigido por Marta Rodriguez e Jorge Silva e restaurado recentemente (o relançamento aconteceu no Festival de Berlim de 2019). “Acredito que essa edição do Cinecipó vai acabar se tornando uma boa oportunidade para que as pessoas vejam ou revejam grandes filmes que já deram as caras durante o ano”, observa o curador Gabriel Araújo. “Contudo, talvez o diferencial seja exatamente essa proposta de organização dos programas, considerando algumas recorrências e diferenças que observamos nesse conjunto de filmes. Acho que também existe um importante gesto de reunir filmes produzidos por corpos diversos – pessoas negras, indígenas, cis e trans –, localizados em diferentes partes do país”, diz.
A programação geral conta com mais de 60 obras, entre curtas e longa-metragens ficcionais e documentais. Um dos títulos selecionados é Último Sonho, de Alberto Alvares, um documentário que homenageia o grande líder Guarani espiritual Wera Mirim – João da Silva, da aldeia Sapukai/Angra dos Reis (RJ). Já curtas inéditos, de Carmen Kemoly, fala poeticamente sobre uma mulher em diáspora, que tem a chegada de seus ancestrais pelo Maranhão e, ao chegar ao Piauí, escreve uma carta denunciando os maus tratos que ela e sua comunidade sofriam.
Dirigido por Grace Passô, República foi realizado em casa, no início da quarentena de 2020, no centro da cidade de São Paulo, no bairro da República (o filme retrata um país exausto de atos violentos), enquanto a produção canadense O Quádruplo, assinada por Alisi Telengut, exalta a visão de mundo e a sabedoria indígenas. Já Hasta Que Muera El Sol (realizado por Claudio Carbone) acompanha as histórias de dois jovens amigos nativos, com diferentes estratégias de resistência.
Obras inéditas
A seleção do Cinecipó ainda traz os curtas inéditos Nas Giras do Vento (César Guimarães e Pedro Aspahan) e Candombe do Açude: O Passado Contado pelo Canto; as produções LGBTQI+ Bonde (Asaph Luccas), Gênesis (Juan Augustin Greco e Maria Sanchez Martinez), Perifericu, À Beira do Planeta Mainha Soprou a Gente (Bruna Barros) e Rebu – A Egolombra de uma Sapatão Quase Arrependida (Mayara Santana); a potência dos corpos negros performando em obras como Julite (Castiel Vitorino), Instituição_Intuição (Ana Pi), Rio das Almas e Negras Memórias (Taize Inácia e Thaynara Rezende); e conteúdo indígena em títulos como Mãtãnãg, A Encantada (Shawara Maxakali e Charles Bicalho), O Verbo se Fez Carne (Ziel Karapotó) e #Kipaexoti (Coletiva da ASCURI).