TORNE-SE ROTEIRISTA

Inspiração é apenas um dos ingredientes desta carreira, que também exige muita dedicação, pesquisa e comprometimento

 

Um escritor solitário, sentado à frente do computador por dias, semanas, meses… constantemente atormentado pelo bloqueio criativo, mas firme na tarefa de escrever o próximo sucesso hollywoodiano. Finalmente, ele digita o “Fade Out” e voilà: seu roteiro de cinema está pronto.

Se esta é a ideia que você tem da rotina de trabalho de um roteirista, talvez precise ler este texto até o fim. Neste artigo, respondemos às principais dúvidas sobre a carreira de roteirista.

 

ATRIBUIÇÕES

Afinal, o que exatamente envolve o trabalho de um roteirista? Ele conta a história do filme. Ou melhor: é o primeiro a começar a contar uma história que ganha vida durante a produção e só termina, de fato, na sala de edição.

“If it’s not on the page, it won’t be on the stage”. A frase (assim traduzida para o Português: “se não está no papel, não vai para o palco”) basicamente expressa o fato de que a narrativa precisa partir de uma página em branco para chegar a algum lugar. É exatamente esse o trabalho do roteirista: botar as ideias na página.

O problema é que, tanto para roteiristas experientes quanto para quem está começando, não há nada mais difícil do que colocar para fora as primeiras palavras de uma história. Há quem diga que, no fim das contas, o roteirista é a pessoa que mais trabalha em um filme, pois está presente desde o argumento até a finalização.

 

RESPONSABILIDADES

Muita gente se pergunta em que partes do processo de fazer um filme o roteirista está envolvido. É só escrever tudo, até o tratamento final, e acabou? A rigor, o trabalho termina ao entregar o roteiro para o contratante. Porém, tudo depende da natureza da produção e da relação que se estabelece com o diretor do projeto.

No caso do cinema, em filmes de ficção, geralmente o trabalho do roteirista se limita à fase de pré-produção. Já para os documentários, é comum ter um roteiro de captação e outro, posterior, de edição. Isto porque o filme vai se moldando conforme a realidade daquilo que é captado.

 

O DIA A DIA DA PROFISSÃO

Assim como sua participação nos diversos processos da produção de um filme é variável, a rotina de um roteirista também varia muito de acordo com cada indivíduo e seu modo de trabalho (ou cada projeto e a estratégia escolhida para desenvolvê-lo).

Para muitas pessoas que trabalham com roteiro, cujas atividades profissionais não se restringem à escrita, o ideal é reservar períodos nos quais será possível se dedicar sem distrações. Convém reservar algum tempo diariamente.

Alguns projetos exigem mais pesquisa do que outros. E algumas histórias são escritas mais rápido do que outras. Não há uma fórmula para o roteiro de um filme, apenas a certeza de que o esforço e a dedicação constantes farão com que algo vá para o papel. A partir daí, é preciso trabalhar e lapidar até que o resultado seja satisfatório.

Sim: é uma atividade solitária – a não ser que você considere seus personagens boas companhias. Envolve pesquisa e escrita, mas também demanda assistir a filmes e séries feitos por outras pessoas. Por isso, pode soar, também, como a rotina de um desocupado – um trabalho que não parece bem “trabalho”. No entanto, mesmo que ele esteja apenas olhando para uma parede ou uma tela em branco, a mente do roteirista funciona ininterruptamente.

Do tempo para concluir uma história, de todo o trabalho para estar com um roteiro cinematográfico em mãos, o que leva menos tempo é justamente escrever o roteiro propriamente dito, da primeira cena em diante. Se gasta mais tempo pensando sobre a narrativa e os personagens, pesquisando e refletindo para poder criar.

 

REMUNERAÇÃO

Mas e aí? Dá para pagar as contas? Uma das maiores dúvidas (e, certamente, o maior medo de quem almeja abraçar a profissão de roteirista) é saber se não vai faltar dinheiro no final do mês. Afinal, qual o salário de um roteirista?

Tudo é muito relativo, mas podemos tomar como parâmetros duas tabelas para longa-metragem. O piso de salário para um roteirista, recomendado pela Associação Brasileira de Autores Roteiristas (ABRA), é de R$ 72 mil para dois tratamentos e uma revisão. Já o Prodav 05 do Fundo Setorial do Audiovisual, um edital de desenvolvimento bastante disputado no país, paga R$ 100 mil para um projeto. Desse valor, pelo menos 40% tem que ir para o roteirista.

Profissionais experientes no mercado acreditam que a média de valor para um argumento seja de R$ 10 mil, ficando entre R$ 40 e R$ 70 mil para o roteiro de um longa. Lembrando que esta quantia não é mensal, mas por projeto, ou seja: ela será diluída no decorrer dos meses em que o roteiro do filme estiver sendo escrito.

 

FORMAÇÃO

Com tudo isso em mente, surge a pergunta: “como faço para ingressar na carreira de roteirista?” Cada pessoa terá um caminho diferente, mas estudar Cinema em uma instituição de qualidade, com profissionais que estejam atuando no mercado, é uma excelente forma de fazer contatos.

Claro que há roteiristas que começam em outras áreas, sem passar por uma escola de cinema, mas a vantagem de um curso é juntar em uma mesma sala pessoas com esse objetivo em comum. Além disso, os curtas-metragens estudantis costumam ser exibidos em festivais, que são bons ambientes para mostrar seu trabalho e conhecer outros profissionais.

Depois de estudar, o melhor caminho é procurar estágios ou assistências. Sim, é preciso começar de baixo. Ninguém sairá da escola de cinema e se tornará roteirista de blockbusters em Hollywood. Isto quer dizer que, muito possivelmente, seus primeiros projetos serão pequenos ou diferentes daquilo que você gostaria de escrever. Mas, aos poucos, cria-se um networking e ganha-se experiência.

A vantagem do roteirista é que uma boa ideia pode levá-lo muito longe. A indústria precisa de histórias originais e do frescor de quem está começando.

 

REFERÊNCIAS E CONSELHOS

Para quem chegou até aqui e quer saber mais sobre a profissão – como é trabalhar como roteirista, quais são as dificuldades do ofício etc. –, a dica é buscar inspiração em filmes como Adaptação, de Charlie Kaufman. Nele, um roteirista desesperado passa por um bloqueio criativo durante o processo de adaptar um livro sobre orquídeas. Ele acaba buscando a ajuda de um irmão gêmeo e, também, do famoso “script doctor” (consultor) de Hollywood, Robert McKee.

Além de assistir a muitos filmes, quem se interessa pela área pode seguir os sábios conselhos de roteiristas profissionais. A primeira recomendação é continuar estudando. Todas as profissões exigem um eterno aprendizado e esta não é diferente.

Ler é fundamental: se uma pessoa sonha em trabalhar como roteirista e não tem o hábito da leitura, será muito difícil desenvolver suas próprias histórias de maneira consistente.

Outra experiência enriquecedora para quem realmente quer uma carreira bem sucedida como roteirista é acompanhar a edição/montagem de diversos tipos de projetos. Questões como tempo de ação, timing de uma fala cômica, problemas no diálogo e imagens de cobertura, entre outros elementos da linguagem audiovisual, saem do abstrato e se tornam mais concretos na sala de edição.

A criação é algo muito pessoal. Submeter uma história ao olhar do outro nem sempre é uma tarefa fácil ou confortável. Tenha consciência de que roteirizar pode até ser um exercício solitário, mas filmar é uma atividade coletiva. Isto quer dizer que você precisa saber expor e defender suas ideias, se quiser que saiam do papel. Assim, depois de tanto estudo e reflexão, esforço e dedicação – e também, algum desapego –, o “Fade Out” no final do seu roteiro certamente será merecido.

 

Fontes consultadas para esse artigo: professores da Academia Internacional de Cinema: Paulo Marcelo do Vale Tavares, Pedro Salomão, Patricia Oriolo, Renata Mizrahi e Thais Fujinaga.

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