CUIDADO COM A TEMPERATURA DA COR

Antes de realizar ajustes na câmera, leve em conta o momento do dia em que está fotografando e o modo como o sol se comporta

Texto: Luiz Carlos Lucena
Imagens: Divulgação

Você ajusta a ISO, regula o shutter, acerta o f-stop, bate a foto e ela sai alaranjada demais. Ou azulada. Esse é um erro comum, principalmente para os fotógrafos iniciantes. Eles se esquecem de um fator fundamental e de um princípio básico da fotografia: a foto é a impressão/reprodução do reflexo do sol (luz) sobre o objeto. O problema é que essa luz, natural ou artificial, muda conforme a hora do dia ou o tipo de iluminação. Controlar essas variáveis evita esse tipo de erro e garante cores naturais às fotos. É o que chamamos “temperatura de cor” – um indicador da graduação de calor emitida pelos raios de luz, medida em graus Kelvin. Para entender isso, vamos a uma aulinha didática. Depois de entender esses conceitos, será fácil adaptar o sensor da câmera ao tipo de luz (natural ou artificial).

Ok, repetindo: na fotografia, trabalhamos com iluminação natural e iluminação artificial. A iluminação natural é a luz que recebemos do sol, quando o mesmo circula em nosso hemisfério. Essa luz, na realidade, corresponde ao brilho de milhões de explosões nucleares que se espalham pelo universo, sem parar, infinitamente. É uma reação atômica que acontece na superfície do sol e que clareia o universo. Uma luz extremamente radiativa, que se chama “espectro eletromagnético”, e que chega do espaço carregada de raios-x, raios gama, ultravioleta, infravermelho e ondas de rádio. 

Faixas de luz

O sol aparece todos os dias, às vezes, de formas diferentes; e sempre que aparece, é possível fazer boas fotos, seja pela manhã, à tarde ou mesmo no começo da noite. Basta sabermos controlar a luz que ele irradia para a Terra e aprendermos a posicionar o objeto que queremos fotografar em relação a essa luz. Aí entra o papel do fotógrafo – as câmeras digitais fazem isso naturalmente quando optamos pelo automático, mas se você quer operar no manual para controlar o resultado de suas fotos, precisa adaptar a câmera à situação real daquele momento – seja luz do sol, em suas várias formas, ou luz artificial, também de formas variadas.

Todo mundo conhece a famosa capa do disco “Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd, considerado um dos mais importantes álbuns do rock progressivo. Aquele prisma que divide um facho de luz branca em várias cores é uma criação de Isac Newton, que observou como a luz branca chega até nós. Newton demonstrou que, se colocarmos um prisma na linha dessa luz branca, ela se divide em um facho de luz que abrange todo o espectro de sete cores, do preto mais escuro, passando pelo azul, verde, amarelo e vermelho.

Newton também descobriu que cada cor que atravessa o prisma tem uma velocidade diferente. Explicando: a luz, quando está no espaço, corre a 300 mil km por segundo. A partir do momento que começa a entrar na atmosfera, passa a perder velocidade e muda de cor, filtrada pelas camadas de gases.

O captador da câmera não consegue enxergar como nós. Nosso cérebro arranja automaticamente as cores que vemos. Já o sensor da câmera precisa ser ajustado para medir as mudanças de tonalidades da cor conforme o horário vigente.

Normalmente, uma foto tirada antes do sol nascer aparecerá azulada, pois a luz solar ainda bate na atmosfera do céu e retorna para nós na cor azul. Na hora que começam a aparecer os primeiros raios de sol, a foto fica alaranjada porque a luz tem que passar por uma camada espessa da atmosfera, que acabará refletindo essa tonalidade alaranjada para o avermelhado. Quando mais poluído o ar, mais avermelhada é a foto. Quando o sol começa a subir um pouco mais, meia hora depois de surgir, a luz já é mais branca. Desse momento em diante, fica na faixa dos 5.500 Kelvins, o parâmetro indicador de lua do dia.

Entre 11h00 e 13h00, a espessura que a luz atravessa é muito fina; então, objetos fotografados na sombra ficam mais azulados, pois a camada de ozônio deixa passar muita luz ultravioleta e o Kelvin vai para 7 a 8 mil graus. Se fotografarmos um parque, e se houver alguma coisa branca na sombra (uma camiseta, por exemplo), esta ficará azulada. A partir das 13h00 até as 17h00, a luz volta a ficar na faixa de luz branca, 5.500 Kelvins. Quando o sol começa a chegar próximo do horizonte, volta aquela luz alaranjada ou avermelhada que todos apreciam em fotos do crepúsculo. Quando o sol passa do horizonte e começa a anoitecer, as cores começam a sumir e só enxergamos formas (ou não enxergamos nada), mesmo com lua cheia.

Luzes artificiais

Uma lâmpada incandescente – aquelas de bulbo, que começam a se tornar raridades, pois estão sendo substituídas – brilha na faixa de 3.800 Kelvins. Esse tipo de luz emite a cor laranja – por isso, fotos sob essa luz em ambientes internos sem regulagem ficam “quentes”, alaranjadas. As novas fluorescentes já emitem luz fria na faixa da luz do dia, 5.500 Kelvins.

Nosso olho filtra o laranja “extra” ou o azul que sobressai, mas o sensor da câmera precisa ser avisado disso. Por isso, as câmeras digitais têm o que chamamos de “balanço do branco” (white balance), recurso que corrige as cores invasivas. É o que fotógrafos e cinegrafistas chamam de “bater o branco”. Ou seja: quando regulamos a temperatura de cor, o sensor coloca um filtro na frente para reter essa luz invasora. Isto era um pesadelo para os fotógrafos que usavam câmeras analógicas, com filme, que tinham que usar filtros com reticulas coloridas de gelatina para fazer essa correção.

O captador também não consegue calibrar duas cores diferentes – ele “puxa” sempre para a mais predominante. Logo, nunca é recomendável fotografar no automático. Precisamos entender como funciona o captador e o que podemos fazer nos ajustes de câmera para captar as cores na temperatura correta, para uma foto de qualidade.

As câmeras normalmente trazem incorporados os parâmetros para fotos à luz do dia, nublado, luz incandescente ou fluorescente. Algumas têm o recurso de correção direta por meio da regulagem dos graus Kelvins. Antes de mexer em ISO, shutter e f-stop, veja a que horas do dia está fotografando e como se comporta o sol (ou qual a luz principal que ilumina o ambiente). As chances de uma foto com cores mais realistas serão muito maiores!

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