Filme nacional selecionado para o DOC NYC

“Edna” é o único filme nacional selecionado para o DOC NYC

Produção também participou do Telluride Film Festival, no Colorado (EUA), o que o habilita a se inscrever em outras premiações estadunidenses

Vivendo à beira da rodovia Transbrasiliana, na Amazônia, Edna é testemunha de uma terra em ruínas construída sobre massacres. Criada apenas pela mãe, ela vivencia em seu corpo e nos de seus descendentes as marcas de uma guerra que, segundo ela, nunca acabou. Por meio de seus relatos e escritos, o filme Edna, documentário dirigido por Eryk Rocha, constrói uma narrativa híbrida que se move entre o real e o imaginário.

Com passagens por mais de 15 festivais em todo o mundo, a produção conquistou outro mérito: ser o único filme nacional selecionado no renomado DOC NYC, nos EUA. Com duas exibições programadas, a produção está na seção Competitiva Internacional Caleidoscópio: Novas Visões Documentais. Além deste, também foi anunciada, na última semana, a participação do filme no Festival Ambulante (México), FICX Gijón (Espanha), Porto Post Doc (Portugal), MIDBO (Colômbia), RIDM (Canadá) e Festival de Cinema Independente de Barcelona.

Outra conquista importante foi a participação de Edna no renomado Telluride Film Festival, no Colorado (EUA), que habilita automaticamente o título a se inscrever nas principais premiações estadunidenses, como o Cinema Eye Honors, Critics Choice Documentary Awards, IDA Docs e Film Independent Spirit Award.

Poesia e política

Segundo o diretor, a estreia norte-americana do filme no Festival de Telluride foi bonita e emocionante. “Eu havia participado do festival há 10 anos, mostrando Transeunte”, recorda Eryk Rocha. “E agora, foi a primeira vez que assisti a Edna em tela grande em comunhão com o público. Por conta da pandemia, não pude viajar nos festivais anteriores. E o filme ganha muito impacto e potência na tela grande na experiência coletiva/ emocional/ sensorial da sala de cinema. Houve três sessões do filme com debates e sinto que o público ficou muito comovido com a história e vida de Edna.”

Poesia e política se fundem a partir do caderno de memórias e traduções de sentimentos “Histórias da Minha Vida”, de Edna, a protagonista. Vivendo à beira da rodovia Transbrasiliana, vive essa mulher que enfrentou a grilagem e aqueles que mandam nela na Guerra dos Perdidos (1976), inspirada pela grandiosa e devastadora Guerra do Araguaia (1967-1974). 

História de sangue

“Desde o início ficamos muito impressionados e cativados pela presença, pela voz e força do relato de Edna”, prossegue o cineasta. “Filmei esse primeiro encontro com a câmera acomodada nas pernas trêmulas. Ouvimos, comovidos, Edna dizer coisas tão fortes e com tanta doçura, e ao mesmo tempo, com tanta dor e sofrimento. Essa conversa aconteceu em sua casa à beira da estrada na rodovia Transbrasiliana, a poucos quilômetros do município de São Geraldo do Araguaia, fronteira entre Pará e Tocantins.”

O diretor também apresenta uma reflexão sobre a personagem e sua história: “Edna encarnava a terra, o corpo-terra, a luta pela terra”, diz. “Imagem tão forte que permeia a história de sangue do Brasil. Ela trazia suas marcas, experiências que se entrelaçam com a tragédia histórica do Brasil que tão cruelmente tem a ver com o nosso presente. Presente de feridas abertas e questões cruciais que ainda não fomos capazes de resolver como povo. Nas palavras dela: ‘eu tenho medo, a guerra ainda não acabou.”

You don't have permission to register