MOVIMENTOS SEGUROS
Diferentes aplicações requerem distintos tipos de tripés. Mas há algo em comum a todos eles: são peças que se tornaram quase indissociáveis dos meios de produção
Desde épocas remotas o homem percebeu a necessidade de criar um acessório que mantivesse seguros certos objetos de seu uso, possibilitando trabalhar com eles em alturas mais práticas e operacionais que ao nível do solo. Um desses objetos foi a luneta de grande alcance, mais tarde, transformada em telescópio. Seu poder de ampliação era muito grande para permitir qualquer tipo prático de observação, se fosse sustentado, mesmo que firmemente, somente pelas mãos. O tripé, com seus três pontos de apoio, era a solução ideal.
Décadas de observação de estrelas e planetas se sucederam até as primeiras fotografias do francês Nicéphore Niépce. Os longos tempos de exposição com esses equipamentos rudimentares logo fizeram do tripé um acessório indispensável. Sua tarefa principal era estabilizar a imagem, que, do contrário, ficaria tremida e com borrões. Nos dias de hoje essa necessidade permanece: em fotografia, quando se usa uma velocidade baixa de obturador e deseja-se que a imagem não saia tremida, é necessário o uso de um tripé.
Pouco antes da virada do século XIX, a fotografia ganhava movimento com as primeiras câmeras de cinema. E esses equipamentos herdaram da fotografia os tripés: durante muito tempo, o movimento nas imagens dos filmes se resumia àquilo que estava diante das câmeras. Estas permaneciam estáticas, firmemente presas aos seus tripés. Mas o homem, sempre criativo, logo teve a ideia de “mostrar” ao público o que havia à sua frente, como se as câmeras fossem olhos de cabeças que giravam de um lado para outro, descerrando um panorama. Nascia, assim, o movimento horizontal da câmera, logo propiciado de maneira suave por um mecanismo colocado entre ela e a parte superior do tripé – peça denominada “cabeça do tripé”. Tratava-se do movimento de pan (panorâmica), complementado com o movimento vertical (tilt).
RAMOS DISTINTOS
A principal diferença que, daquele momento em diante, cindiu os dois ramos de fabricação de tripés reside justamente nessas duas movimentações. No tripé fotográfico também é possível “mover sua cabeça” para os lados, para cima e para baixo, inclusive com o auxílio de uma alavanca (característica que o torna, à primeira vista e para um observador inexperiente, semelhante ao tripé de cinema e vídeo).
No entanto, esses movimentos existem no tripé fotográfico apenas para que se possa escolher o melhor enquadramento para a imagem. Feito isto, sua cabeça é travada e assim permanece até a foto ser capturada. Já no tripé de cinema e vídeo o movimento da cabeça faz, em muitas vezes, parte da imagem. Assim sendo, tal movimentação deve ser suave; sem mecanismos especiais e de forma livre; dificilmente o movimento pode ser feito de maneira lenta, velocidade exigida para a maioria das tomadas que transmitem os mais diferentes significados dramáticos ligados ao enredo.
Esse mecanismo especial opõe determinada resistência ao movimento feito na alavanca com as mãos: ao aumentar-se a pressão na alavanca, o movimento tem início de maneira extremamente suave. Esta pode ser obtida com maior precisão (é o caso dos mecanismos utilizados em tripés profissionais e, em alguns casos, semiprofissionais). A diferença básica reside no meio utilizado para impor resistência ao movimento: enquanto, nos primeiros, emprega-se um fluido (óleo especial de alta viscosidade), nos segundos emprega-se o atrito entre duas peças (como em uma embreagem de carro). O fluido permite grande precisão e suavidade, algo que os do tipo “atrito” não conseguem reproduzir. No jargão convencional, devido à presença do óleo (fluido) utiliza-se, muitas vezes, o termo “cabeça hidráulica” ou “tripé hidráulico”.
O mecanismo permite uma grande flexibilidade para o operador: a resistência ao movimento da cabeça pode ser anulada completamente através de uma alavanca especial. Ou pode ser regulada gradativamente, atendendo ao desejo do operador de realizar o requerido movimento com maior ou menor velocidade, maior ou menor pressão na alavanca. Ou, ainda, a resistência pode aumentar gradativamente com o movimento – ou não.
O mecanismo da cabeça do tripé permite efetuar os movimentos de tilt e pan; é comum encontrar, aqui, pequenas alavancas que travam um desses movimentos em determinada posição. Por exemplo, eliminando o tilt. Na parte central da cabeça encaixa-se seu principal controle – a alavanca que, por proporcionar esses movimentos, recebe o nome de alavanca de pan / tilt. Em alguns modelos essa alavanca possui, em sua extremidade, uma manopla giratória, que pode ser utilizada para travar totalmente a movimentação do tripé. Em outros modelos existe a possibilidade de se remover e instalar a alavanca na frente ou atrás da câmera (permitindo, assim, uma adaptação a diferentes modelos e tamanhos de equipamentos), assim como do lado direito ou esquerdo (facilitando a operação para destros ou canhotos).
PESOS E MEDIDAS
Outra diferença entre o tripé fotográfico e o de cinema/vídeo é sua robustez, necessária para suportar o peso – normalmente, bem maior – desse tipo de câmera. E, por falar em peso, o próprio tripé possui o seu, importante questão quando se considera o quesito “viagem”. É possível encontrar tripés com pernas confeccionadas em diferentes materiais: desde a tradicional madeira (menos usual) aos mais comuns, de alumínio, aço inoxidável e fibra de carbono. Devem ser preferidos os que somem leveza e resistência. Por outro lado, é fundamental verificar a carga máxima suportada pelo tripé e o peso da câmera que se deseja utilizar.
Mas não só em termos do tipo de material variam os tripés: suas pernas, com tubos em perfil triangular, retangular ou cilíndrico, são compostas por seções encaixáveis umas dentro das outras, permitindo a regulagem da altura da câmera. Outra diferença em relação ao tripé fotográfico surge aqui: o movimento de pan, combinado com a resistência da cabeça, acarreta em um sobre-esforço na estrutura das pernas, que poderiam entortar-se se não possuíssem suficiente resistência à torção. Esta, ao invés de ser conferida através de pernas com maior seção transversal, que resultariam em maior peso e menos praticidade, é proporcionada pelas pernas formadas por segmentos paralelos: têm-se pernas duplas correndo paralelas sobre outras em encaixes deslizantes.
A altura máxima atingida por um tripé varia. Mesmo porque isto se deve ao tipo de aplicação a que o tripé se destina – alguns, geralmente encontrados no meio profissional, são próprios para o trabalho com câmera baixa, por exemplo, permitindo a captura de imagens a pouca distância do solo. Isso tudo, juntamente com as diferentes dimensões de cada um, leva a uma importante observação: antes de adquirir um tripé, deve-se ter em mente as situações em que o equipamento será utilizado na maioria das vezes. O que leva a outra observação: o ideal é adquirir um bom tripé, mesmo que seu custo seja considerável em comparação a seu equivalente fotográfico. O que norteia essa decisão é a durabilidade: um equipamento assim deve acompanhar o cinegrafista durante muitos anos – outro quesito que demanda boa qualidade.
Voltando à altura, as seções que compõem as pernas ajustáveis podem, na maioria dos modelos, ser fixadas em qualquer ponto em meio a seu trajeto, através de travas (alavancas levantadas / baixadas ou anéis que giram) que, quando acionadas, interrompem o movimento de uma seção dentro da outra. Através desse tipo de ajuste, os tripés mais simples podem ser nivelados. Trata-se de uma operação de extrema importância, cujo desajuste surge visível na imagem de um movimento de pan de um esplêndido horizonte com pôr-do-sol (ou outro qualquer): ao terminar o movimento, o horizonte está inclinado, “caindo” para um dos lados.
NIVELAMENTO
Para auxiliar na tarefa de nivelamento, muitos tripés possuem um nível de bolha (miniatura do que os pedreiros usam) fixado na estrutura superior que une as três pernas. Acima desta encontra-se a cabeça do tripé, que pode, inclusive (nos do segmento profissional), ser adquirida à parte. A cabeça é composta basicamente por três partes: a superior, que serve para prender a câmera; a intermediária, através da qual são possíveis os movimentos de pan e tilt; e a inferior, que se fixa em uma base (denominada “pedestal”) montada no topo da estrutura de junção das pernas.
Em alguns tripés mais simples, é possível encontrar uma coluna com mecanismo de cremalheira (dentes), que sobe e desce através do acionamento de uma alavanca. Nos modelos mais antigos, o encaixe (cabeça / pedestal) era fixo, exigindo, às vezes, um demorado trabalho de ajuste sobre cada uma das três pernas para conseguir nivelar adequadamente o tripé, mesmo com o citado nível de bolha. Era comum a cena do cinegrafista iniciante atrapalhado com a regulagem das pernas do tripé – situação que o mecanismo ball level veio solucionar completamente.
Trata-se do encaixe cabeça – pedestal móvel, montado em uma estrutura de esfera. Para ajustá-lo sota-se uma presilha e a base da cabeça do tripé fica totalmente livre para mover-se para frente, para trás e para os lados. Prende-se a presilha, e esta base volta a ficar imóvel. Existe então um segundo nível de bolha, montado na estrutura da cabeça, para permitir o nivelamento correto. Assim, é possível, em poucos segundos, nivelar a câmera de maneira totalmente independente das pernas do tripé.
Ajustada sua altura, a posição das pernas no solo em relação ao corpo do cinegrafista não deve atrapalhar sua movimentação na operação da câmera: basta deixar uma das pernas à frente da câmera. É comum observar-se a presença de três braços radiais ligando os pés do tripé: além de conferir maior rigidez e estabilidade ao conjunto, permitem que o cinegrafista coloque o pé sobre eles, aumentando ainda mais a estabilidade em certas situações. Esses braços, em forma de estrela, são normalmente constituídos de borracha.
Os pés são responsáveis por suportar o peso de todo o conjunto (câmera e tripé), sendo confeccionados com materiais derivados de borracha. No entanto, como o tipo de piso onde o tripé será instalado pode variar bastante (concreto, assoalho liso, grama etc.), alguns modelos oferecem a opção de se trocar esses pés, de borracha para pontas metálicas, por exemplo. Esta troca, em alguns tipos, é facilitada através de mecanismos que fazem com que as pontas sejam retráteis.
Poder retirar rapidamente a câmera do tripé para registrar uma cena próxima é uma possibilidade interessante proporcionada pela maioria dos tripés profissionais. Neles há uma plataforma que deve ser parafusada na base da câmera. Esta plataforma fixa-se a outra plataforma presa na cabeça do tripé: as plataformas deslizam uma sobre a outra, até travarem com um clique característico. E podem ser liberadas com o simples pressionar de uma alavanca (esta pode ser bloqueada por um mecanismo de segurança para evitar acidentes). Assim, a operação de retirar a câmera do tripé exige o acionamento dos dois controles. Esse mecanismo é o quick release.
Finalmente, vale lembrar que, para suportar a câmera, nem sempre são necessárias três pernas: basta uma, no acessório conhecido como monopé. Como o nome sugere, ao invés das três pernas, aqui só existe uma. Grande parte da trepidação involuntária transmitida às câmeras provém de movimentos verticais, não horizontais. O apoio da câmera sobre uma única haste, a do monopé, ajuda a eliminar parte desses movimentos. Os movimentos involuntários horizontais serão pouco notados se o ajuste da objetiva estiver em grande angular. Ainda que não permita o tilt e não possa ser abandonado sozinho, o monopé (com extensão ajustável em alguns modelos) pode ser uma opção em situações onde não haja espaço ou a câmera precise mudar de lugar com frequência, como em meio ao público que assiste a uma apresentação. Com a possibilidade adicional de poder ser elevado acima da cabeça das pessoas, bastando, para isso, girar o visor LCD da câmera para baixo. Uma ou três pernas (e mais as duas do cinegrafista!) constituem um acessório extremamente útil em diversas situações de videoprodução.