“SLOW MOTION” E “FAST MOTION”

Quando empregadas sem critério, imagens em câmera lenta ou acelerada perdem seu impacto original. Na dúvida, só utilize esses recursos se eles realmente contribuírem para o seu audiovisual

Texto: Ricardo Bruini
Imagens: Divulgação

Há alguns anos, antes do advento das tecnologias digitais, o produtor de conteúdo que precisasse captar imagens em slow motion (câmera lenta) ou em fast motion (câmera acelerada) tinha que recorrer a câmeras de película que oferecessem alteração na cadência dos fotogramas captados.

Os resultados eram excelentes. No entanto, isto demandava custos altos e gasto excessivo de película (no caso do “slow”), sem contar que o resultado só era visualizado após o processo de laboratório, o que, não raro, tornava a refilmagem uma prática corriqueira. Com a invenção das tecnologias digitais de vídeo, câmeras especialmente desenvolvidas para “slow” e “fast” começaram a ser produzidas, o que tornou a tarefa mais prática e rápida (mas não menos dispendiosa, já que essas câmeras especiais eram muito caras).

Hoje, a tecnologia de alteração de frame rate está ao alcance de qualquer um. Câmeras capazes de, ao toque de um botão, permitir a gravação de imagens em slow motion ou fast motion estão disponíveis no mercado a um custo relativamente baixo.

Câmera lenta

Ao que parece, os produtores de vídeo redescobriram a existência do slow motion. Entretanto, a exemplo de várias outras técnicas e processos que, ao longo do tempo, foram inventados, aprimorados e/ou tiveram sua utilização facilitada, o slow padece, atualmente, de um “uso indiscriminado”.

É inegável que cenas captadas em câmera lenta proporcionam um impacto visual superior àquele causado por imagens com cadência tradicional de frames. Mas isto não significa que tal recurso de linguagem possa ser utilizada a todo momento – e tampouco, que basta “abrir” câmera e rodar em slow, sem se preocupar com enquadramento, composição ou iluminação. O uso excessivo ou inadequado deste recurso acaba por banalizá-lo e, por conseguinte, compromete seu impacto inicial.

A câmera lenta tem, por função, enfatizar determinado movimento ou suavizar algumas cenas; ou ainda, causar a sensação de “suspensão” do tempo. Usá-lo com um desses significados em uma ou outra cena é prova de maturidade conceitual; mas empregar esse recurso somente pela beleza plástica e de forma excessiva não passa de “modismo”. Denota uma falta de consistência na linguagem audiovisual.

O que vem ocorrendo na videoprodução nacional é uma “overdose” de slow motion (e um uso inadequado deste recurso, sem enquadramentos que o valorizem). Na ânsia de utilizar este macete, muitos produtores têm incorrido no erro de gravar tomadas em slow sem qualquer preocupação com sua real necessidade. Simplesmente em prol do impacto estético.

Vale lembrar que, em relação ao enquadramento, é preferível o uso de lentes teleobjetivas, a fim de isolar o movimento da pessoa (e/ou objeto) do fundo e dos demais elementos da composição. Desse modo, o resultado obtido pelo slow é maximizado. Empregar o recurso em cenas demasiadamente abertas pode inviabilizar o impacto desejado.

Com relação ao ajuste de shutter (velocidade de abertura), não há uma regra a seguir. Diferentemente do que muitos imaginam, não é necessário utilizar a velocidade de shutter padrão de cada valor de frame rate (para cada valor de frame rate, há um valor-padrão de shutter correspondente; por exemplo, para uma cadência de 500 fps, o shutter padrão é de 1seg./1000). Na verdade, pode-se utilizar, se for da sua preferência, uma velocidade de shutter acima do padrão.

Assim, obtém-se uma melhoria na percepção dos movimentos. Os fatores limitadores passam a ser a quantidade de luz (quanto maiores o shutter e o frame rate, mais luz é necessária para expor a imagem) e o efeito de “flicagem” (o que pode ser tanto um recurso de linguagem almejado como algo que se prefere evitar, dependendo dos resultados que você busca). Já quando o assunto é o fast motion (movimento acelerado), considerações similares também são válidas, evidentemente, levando-se em conta que o movimento acelerado é o inverso da câmera lenta.

Movimento acelerado

O uso exagerado do fast também acaba por banalizá-lo e torná-lo ineficiente como recurso de linguagem. A função do movimento acelerado é enfatizar a passagem do tempo ou demonstrar alguma mudança que demande horas, dias ou até meses para ocorrer. Diferentemente do slow, o fast motion tem maior impacto visual e eficácia quando são utilizados enquadramentos abertos, até mesmo, com lentes grande-angulares ou do tipo “olho de peixe”. Isto não significa que o produtor deva ficar limitado a esta lente.

O ajuste de shutter speed, preferivelmente, deve ser feito em valores baixos, o que dá maior fluidez ao resultado final e o torna mais “orgânico” e natural. Usar velocidades altas de shutter confere à imagem um aspecto de animação em stop-motion, o que não é recomendado (a menos, claro, que esta seja a intenção). Ao se baixar a velocidade do shutter (obturador), a câmera se torna mais sensível. Desse modo, é possível captar fast motion do movimento das estrelas no céu, por exemplo. Se o recurso for utilizado durante o dia ou em locais muito iluminados, é preferível que, ao invés de se aumentar a velocidade do obturador (um erro que muitos profissionais cometem), recorra-se a um filtro de densidade neutra; ou que se feche ainda mais a íris da objetiva. Também é possível diminuir o valor de ISO.

Enfim: o simples fato de um determinado recurso ou tecnologia estar disponível não significa, necessariamente, que devamos utilizá-lo; muito menos, sem qualquer propósito. Apresentando-se a real necessidade, o uso é livre.

 

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