É MELHOR GASTAR POUCO OU MUITO?
Não é “conversa para boi dormir”: gastando pouco e trabalhando muito, um diretor dedicado e uma equipe otimizada podem fazer filmes baratos que pareçam superproduções
Por Tiaraju Aronovich
Na inauguração desta seção, no mês passado, falei sobre os avanços tecnológicos que favorecem a realização de nossa atividade: o cinema. Verificamos que tecnologias de ponta já estão disponíveis no mercado brasileiro a preços moderadamente acessíveis (o que nos permite produções de alta qualidade e custos reduzidos, na medida de nossa realidade econômica).
Mais especificamente, o enfoque recaiu sobre a cinematografia digital e tudo o que envolve esta prática: seus benefícios e facilidades. Agora, volto à pergunta que fechava o artigo anterior: onde estão nossas produções?
Já que a tecnologia e a logística estão disponíveis no país, é hora de colocar a mão na massa! Muitas vezes, em centros acadêmicos, universidades, cursos ou festivais, deparo-me com esta questão: dinheiro. Estudantes e cineastas reclamam, quase em uníssono, da falta constante de verba para suas produções. Ok: não resta dúvida de que o cinema é, por natureza, uma atividade custosa. Mas será que não há meios de reduzir esses custos, otimizar a equipe e a sistemática de trabalho e, ainda que com um orçamento limitado, realizar um produto profissional e bem-acabado?
Pode apostar que sim! Talvez soe como um clichê, mas nunca é demais afirmar: dinheiro não é tudo! Quantas vezes não vimos produções caríssimas torrarem milhões de reais (ou dólares) em filmes medíocres e mal-feitos? Por outro lado, o oposto acontece: filmes realizados com quantias irrisórias arrebatam público e crítica. Se fôssemos citar exemplos de ambos os casos, precisaríamos de dúzias de páginas para listá-los!
Resta, ainda, outra questão: todos concordam que é possível fazer um filme com pouco dinheiro. Mas será possível fazer um filme com pouco dinheiro que tenha um aspecto realmente profissional – ou seja, visual e acabamento de grande produção, sem aquela cara de “filme amador”, repletos de problemas de cor, som etc.? Sim, é possível. E é exatamente para isso, também, que serve este espaço em Zoom Magazine.
Aqui você terá informações, dicas e truques para otimizar suas produções – para que um filme de R$ 1 mil tenha a “cara” de uma produção de R$ 1 milhão! Mas atenção: isto não significa que o processo seja mais fácil, simplesmente por ser mais barato! Ao contrário! Não há milagres, e sim, muito estudo e trabalho árduo e demorado. Posso, ao menos, garantir que vale a pena!
Com bastante atenção e planejamento, uma equipe bem estruturada e organizada pode fazer verdadeiras mágicas. Salvo raríssimas exceções, sempre trabalhei, no Brasil e nos EUA, em produções de baixíssimo orçamento: de curtas e longas a videoclipes, documentários e institucionais. A limitação financeira dos projetos, no entanto, não podia comprometer sua qualidade artística – logo, fui obrigado a aprender toda a sorte de truques e metodologias de trabalho que constituem o modus operandi clássico do que chamamos “cinema de guerrilha”. Antes de mais nada, devemos entender as etapas básicas e essenciais para a realização de um filme.
PRÉ-PRODUÇÃO
Este primeiro e importantíssimo estágio é, geralmente, um dos mais ignorados e atropelados em produções amadoras, o que pode acarretar em consequências desastrosas. A pré-produção, em linhas gerais, é tudo o que acontece desde a concepção do projeto ao primeiro “Ação!” pronunciado no set, ou seja: é o momento de planejar absolutamente tudo!
Salvo exceções, os cineastas adoram o set e odeiam burocracia e papelada. E é por isso que muitos ignoram a importância de uma pré-produção meticulosa. O tempo devidamente investido na “pré” é inversamente proporcional aos obstáculos imprevistos e ao tempo gasto na produção: quanto mais investirmos em um planejamento sólido, mais rápida e suavemente será concluída a gravação.
Este é o momento de pesquisa, de “quebra de roteiro”, de desenho de produção e gerenciamento de projeto, elaborações financeiras e business planning (planejamento de negócios), escolha de equipe e equipamentos, arquitetura de cronogramas, shot list, ordem do dia e muito mais. Mas isto não implica, necessariamente, em custos adicionais – e sim, em investimento de tempo e organização. Uma excelente pré-produção pode ser realizada com uma equipe concisa e enxuta e gastos mínimos, além de ser essencial para um projeto com “cara” de grande produção.
PRODUÇÃO
Este é o momento que todos curtem mais! A “hora da verdade”, da gravação, dos almejados: “Ação!”; “Corta!”.
Pois é. Na maioria das vezes, uma experiência que deveria ser maravilhosa acaba se transformando em uma tragédia – e não raro, nos deparamos com sets de gravação caóticos, com diretores perdidos, fotógrafos desorientados, pilhas de equipamentos desnecessários, atores abandonados, horas e horas de atraso e muito dinheiro desperdiçado!
Quem trabalha com vídeo e cinema já passou por situações assim, e muitas vezes! O fato é que não pode ser assim – e ponto final. Se você busca um visual profissional em seu projeto, sua produção pode ser barata, mas deve ser profissional! É importante saber planejar e organizar sua gravação, aproveitando ao máximo o rendimento da equipe e das diárias – tendo sempre uma visão clara e sólida de onde se quer chegar. Saber como comunicar-se com os outros profissionais também é importante: só assim obtém-se o máximo de cada um.
PÓS-PRODUÇÃO
Acabou a gravação! Muitos filmes, nesse momento, encontram seu “sepultamento”, já que a maioria das equipes amadoras não sabe exatamente como conduzir ou o que é necessário em uma pós-produção. Só para ter uma ideia: mesmo em uma produção profissional, com equipe de ponta, esta fase é a mais demorada, podendo consumir até quatro ou cinco vezes o tempo gasto na produção (às vezes mais, dependendo do projeto).
Uma equipe amadora e desorganizada, então, pode a levar anos na pós-produção de um curta metragem! E se engana quem acha que isso é raro. Recentemente, conheci cineastas que estão “paralisados” na finalização de um curta de apenas cinco minutos há dois anos! É importante saber conduzir, de maneira sólida e eficaz, a pós-produção, mantendo em mente aonde se quer chegar.
Conhecer e dominar todas as atividades envolvidas no processo – montagem, colorização, tratamento de áudio, dublagem, encodagem etc. – também é importantíssimo para qualquer cineasta (além de promover uma grande economia). Nesse momento acontece a verdadeira “mágica” do cinema – e o filme, aos poucos, vai tomando forma. É essencial destrinchar todas as possibilidades para que o projeto tenha o look cinematográfico almejado.
LANÇAMENTO
Agora que o filme está pronto, o que fazer? A vontade de todo cineasta é ter seu filme exibido e assistido pelo maior número possível de pessoas – mas como fazer o projeto chegar às salas de cinema, locadoras e outros meios de exibição? Isto, geralmente, é responsabilidade de um produtor de lançamento; mas, como estamos falando em reduzir custos, a tarefa ficará a cargo de um cineasta dedicado e de uma equipe otimizada. É possível vencer também esta etapa – basta ter tempo e dedicação.
Vimos quais são os estágios essenciais para a elaboração e viabilização de um projeto. Agora, mergulharemos em cada um deles, separadamente, apontando as atividades necessárias (além das dicas e truques) para realizá-las da melhor maneira possível. O objetivo é tirar o máximo proveito de cada centavo investido! As melhores formas de montar um cronograma, a melhor escolha de equipamentos, como organizar locações e muito mais…
Prepare seu roteiro e mãos à obra!