No documentário Billie Especialista brasileira em tratamento de cores

Especialista brasileira comenta sua experiência no documentário Billie

Produção inglesa, que relembra a trajetória de Billie Holiday, contou com o know-how da artista brasileira Marina Amaral no tratamento de cores

A tecnologia tem feito maravilhas pelos registros audiovisuais do passado, que são a força motriz de filmes e séries documentais. A restauração de imagens dá um sabor especial a essas produções, oferecendo aos espectadores uma visão mais impactante de eventos que marcaram o nosso passado.

Um exemplo da relevância dessa tecnologia para as obras do gênero é o tratamento de cores feito no documentário Billie, que relembra a trajetória de Billie Holiday. E o mais interessante é que, nesse caso específico, o mérito é de uma artista brasileira: Marina Amaral, famosa colorista de fotografias P&B que coloriu, digitalmente, mais de 100 fotos utilizadas no longa.

Além disso, a especialista colorizou alguns frames e definiu as cores reproduzidas e aplicadas nos vídeos por um estúdio da Índia. No total, o processo consumiu aproximadamente um ano e meio. Além de retratar momentos icônicos da cantora, Billie toca em questões importantes para que seja possível compreender quem foi esta personagem, por meio de entrevistas feitas com amigos de infância, parentes, estrelas do jazz e até dos agentes do FBI que a prenderam.

Personagem icônica

Vale lembrar que quase nenhuma das imagens tinha sido vista em cores anteriormente, o que inclui os vídeos. Embora, a princípio, Marina não estivesse muito familiarizada com a obra e a história de Billie Holiday, seu interesse pelo assunto não parou de crescer a partir de um primeiro encontro entre ela, o diretor James Erskine e os produtores do projeto, no final de 2018.

“Fiquei muito impactada já nessa primeira reunião, quando eles me contaram detalhes do projeto e da mulher que iriam retratar”, recorda Marina. “Entendi a responsabilidade logo de cara, mas, também, a importância de apresentar Billie a um novo público, sob uma perspectiva bastante diferente.

O detalhe que mais me emocionou foi a colorização do vídeo de uma apresentação ao vivo de Strange Fruit, uma música importantíssima do repertório dela. Fala de racismo, linchamento, e Billie cantava com a alma. Essa apresentação é uma versão muito mais visceral que as versões em áudio que escutei. Fico impressionada até hoje quando vejo esse trecho”. 

Pesquisas históricas

Pela seriedade com que encara o próprio trabalho, sempre se preocupando em fazer uma coloração baseada em pesquisas históricas, Marina Amaral trabalhou junto a museus e instituições altamente prestigiadas, como o History Channel, PBS, KFC, Tatler Magazine, People Magazine, New Regency Films, Pan MacMillan, English Heritage, New York Times, Museu Estatal de Auschwitz-Birkenau e o Memorial Nacional de Paz e Justiça no Alabama. Ela idealizou o aclamado Faces of Auschwitz e criou a RT nos projetos #ROMANOVS100 e #1917LIVE, o que levou à várias indicações internacionais, chegando à final do Festival Lions de Cannes em 2018 e 2019.

Em Billie, o aspecto mais relevante do processo foi reproduzir a cor da pele da cantora de maneira correta. “Algumas fotos estavam ‘estouradas’ pelo flash ou pela má preservação da imagem, o que acabava fazendo com que a pele dela ficasse muito mais clara do que era de fato”, conclui Marina. “Corrigir esses detalhes técnicos foi imprescindível para que Billie pudesse ser apresentada como a mulher negra (e orgulhosa disso) que ela era”.

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