ROTEIRISTAS EM FORMAÇÃO: EXERCÍCIOS PRÁTICOS – PARTE 3!

Continuando a série de roteiros: Mais dicas para elaborar roteiros aprimorados e completos, criando assim uma base para bons filmes

Texto: Tristan Aronovich 
Imagens: iStockphoto

Após analisarmos convenções de gênero, naturezas de conflito dramático, desenvolvimento de personagens e estrutura (clique aqui para conferir), vamos dar prosseguimento a outras atividades práticas que devem auxiliar o roteirista a aprimorar seu ofício.

EXERCÍCIO 10:

Ajustando a proporção entre os atos

Utilizando o conhecimento adquirido nos exercícios iniciais, avalie sua própria história e perceba quais são as “proporções” entre os atos. Faça os ajustes e modificações necessários, mas deixe claro onde estão o começo, o meio e o fim da história. Garanta, também, que os elementos (protagonistas, objetivos, conflitos e resolução) estejam devidamente equilibrados entre os atos. Se for necessário, insira novos obstáculos para forçar o protagonista a percorrer uma jornada mais intensa. Guarde o maior obstáculo para o final, criando, assim, um “clímax” antes de sua resolução. Agora, reescreva sua história e perceba as mudanças!

Dica: o Segundo Ato, ou “Desenvolvimento”, deve ser (preferencialmente) o ato mais longo, seguido pelo Primeiro Ato e, finalmente, pelo Terceiro Ato, que tende a ser o mais curto.

EXERCÍCIO 11:

Formatando o roteiro

Chegou o momento de “formatar” sua história dentro dos padrões oficiais. Segue um guia rápido, que deverá ajudá-lo:
* Utilize unicamente a fonte “Courier New”, tamanho 12. Jamais utilize negrito ou itálico.

* Cabeçalho de Cena: em um roteiro, as cenas são determinadas pelas locações, ou seja, cada novo lugar significa uma nova cena (e cada nova cena exige um novo cabeçalho). Um cabeçalho contém somente três elementos: informa se é uma locação externa ou interna (ou seja, se é um ambiente fechado ou ao ar-livre através de INT ou EXT), o nome da locação propriamente dito e, finalmente, se é dia ou noite. Por exemplo: INT. MERCADO. NOITE ou ainda EXT. RUA. DIA

* Ação e Diálogo: a “ação” é aquilo que acontece na cena e os “diálogos”, aquilo que as personagens dizem. Toda “ação” deve ser redigida em tempo verbal presente simples, sem gerúndios, pretéritos ou futuros, já que reflete precisamente aquilo que é visto na tela. Já as personagens, quando apresentadas pela primeira vez na “ação”, aparecem com nomes em letras maiúsculas seguidos por indicação de idade. Não use parágrafo e mantenha espaçamento simples. Os diálogos são centralizados e ocupam somente o terço central da página (imagine uma página dividida em três colunas idênticas e insira o diálogo na coluna do meio).

* Seguindo os padrões da indústria e do mercado, escrevemos roteiros de cinema utilizando sempre o que gosto de chamar de “Linguagem Visual”, ou seja, você apenas escreverá aquilo que acontece aqui e agora e que pode ser visto na “tela”, portanto: não insira demonstrações de emoção (palavras como “desesperadamente”, “precipitadamente” etc.); evite vícios literários (expressões como “de repente”, “então”, “por consequência”); não indique movimentos de câmera. Seguindo essas orientações básicas, cada página de seu roteiro deverá equivaler a aproximadamente um minuto de filme. Tente, agora, reescrever sua história seguindo este padrão de formatação (inicialmente, pode parecer um grande desafio, mas lembre-se que o mercado exige esta formatação padrão!). Ela deve ficar mais ou menos assim:

EXT. RUA. DIA
O LADRÃO (40) atravessa a rua ajustando seus óculos escuros e apagando um cigarro. Ele grita e gesticula com carros que quase o atropelam. O Ladrão olha para seu relógio, verifica o revólver escondido na cintura e entra no mercado.

INT. MERCADO. DIA
O Ladrão olha ao redor. Ele percebe a câmera de segurança e aproxima-se do caixa onde está a VENDEDORA (30). O Ladrão tira os óculos e sorri para a Vendedora. Ela ajusta seu cabelo e sorri de volta. Na televisão atrás do caixa, o “Jornal do Almoço” transmite as notícias.

VENDEDORA
Olá, tudo bem com o senhor?

LADRÃO
Tudo. Essas câmeras de segurança são novas?

VENDEDORA
São. Instalamos na semana passada.

LADRÃO
Que pena. Significa, então, que, se eu piscar para você ou segurar suas mãos, as câmeras enxergam tudo?

A Vendedora sorri.

LADRÃO
Ou será que você tem o controle de posição das câmeras?

VENDEDORA
Tenho, sim. Posso apontar as câmeras para onde eu quiser.

LADRÃO
Agora as coisas estão melhorando.

Um POLICIAL (45) aproxima-se atrás do Ladrão na fila. Os dois se olham.

LADRÃO
Fica pra outra hora. Quando você acha que eu posso passar aqui?

VENDEDORA
Venha depois das 6. Fica bem tranquilo.

INSERT – Na televisão, o “Jornal do Almoço” dá as notícias de um assalto recente a um mercado. Na tela, o retrato falado do Ladrão.

Ladrão, Policial e Vendedora se olham. Policial prepara-se para sacar a arma. O Ladrão pula para trás do caixa, saca seu revólver e segura a Vendedora como refém.

LADRÃO
Para trás! Não toque em sua arma, senão, eu atiro!

Pessoas gritam, correm e se abaixam.

EXERCÍCIO 12

Desenvolvendo segurança narrativa

Um roteirista precisa dominar com segurança os elementos narrativos de sua história e conhecer a força da ação, a força do silêncio e a força dos diálogos. Para trabalhar este aspecto, um dos melhores exercícios é, mais uma vez, selecionar sua história (que, a essa altura, já pode ser chamada de história “bastante interessante”) e reescrevê-la utilizando somente ações, ou seja, sem diálogos. O desafio, aqui, é manter a história estruturalmente completa, resolvendo todas as questões somente através de ações (sem deixar nada de lado). Na sequência, procure reescrevê-la mais uma vez, porém, agora, praticamente sem ações, dando grande ênfase aos diálogos. Finalmente, escreva a história livremente, mesclando ação e diálogo. Provavelmente esta prática irá fazê-lo rever as proporções adequadas entre ações e diálogos, até chegar a um equilíbrio dramático adequado.

Lembre-se: um bom roteiro é sempre essencial. Este é o alicerce sobre o qual se constrói um bom filme. Portanto, não tenha pressa e pratique esses exercícios quantas vezes julgar necessário.

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