chroma key

A EVOLUÇÃO DO CHROMA-KEY

Desde os primórdios do cinema, técnicas engenhosas vêm assegurando que qualquer tipo de “magia” se materialize na tela

Por Gabriel Portella

Hoje em dia, com câmeras e computadores fazendo parte do nosso cotidiano, é muito fácil esquecer que o cinema surgiu com um efeito especial. E, com a evolução dos efeitos especiais e composição, é muito difícil distinguir o real do “virtual”.

Para saber mais sobre a origem da essência desses efeitos, vamos voltar aos primórdios do cinema, quando um dos primeiros cineastas prolíficos do mundo, Georges Méliès, deu o “start” para esse mundo de efeitos.

Méliès era mágico ilusionista e estudou anos para aprimorar suas técnicas. Após conhecer a nova arte e ser “ignorado” pelos irmãos Lumière, ao tentar comprar uma câmera, ele começou a implantar as técnicas de ilusão em seus filmes. Em suas produções, também empregava um truque visual, o que foi o início rudimentar do que, hoje, conhecemos como “composição em fundo verde”. Nesse truque, Méliès utilizava camadas para múltiplas exposições do filme, chamadas de Matte Shots.

Ele mascarava partes do quadro usando um pedaço de vidro com tinta preta e assim garantia que a luz não chegasse ao filme. Logo, não haveria exposição nos locais pré-determinados. Em seguida, rebobinava o filme e depois invertia a camada, de modo a expor apenas a parte do filme protegida. O resultado era a dupla exposição, combinando duas ou mais cenas diferentes em um mesmo filme. Outros cineastas da época também utilizavam essa técnica, como Edwin Porter.

Em meados de 1900 e 1910, mais técnicas surgiram nos sets, como o Glass Shot (filmagem pelo vidro). Essa técnica era feita com pinturas sobre telas de vidro, que eram colocadas entre o objeto e a câmera, fazendo uma composição no quadro.

OUTRAS TÉCNICAS

O cineasta Norman Dawn refinou a técnica para ser usada como extensão de sets de filmagens, de modo a fazê-los parecer maiores e mais elaborados, sem muitos gastos. Um dos problemas da pintura em vidro era que elas tinham que ser feitas no set, a câmera tinha que ficar totalmente imóvel e a ação no quadro não poderia cruzar a linha “invisível” da pintura.

Diante desses empecilhos, foi criada a técnica do Travelling Matte, processo patenteado por Frank Willians, no qual os personagens eram capturados em um fundo preto; depois, o filme era copiado em vários negativos, aumentando o grau de contraste em cada cópia, até que surgisse uma silhueta preta e branca, sendo usada como camada, assim se movendo pelo quadro.

Esse recurso, posteriormente batizado de Processo Willians, foi muito utilizado nos efeitos do filme O Homem Invisível (dirigido por James Whale em 1933) e, também, em outras produções, mesmo após processos mais eficazes surgirem. No entanto, também tinha seu problema, que era perder as sombras. Uma alternativa surgiu em 1925: o Processo Dunning, técnica que se baseava no uso de luzes coloridas, iluminando uma tela de fundo em azul e o primeiro plano em amarelo. Utilizando corantes ou filtros, essas luzes poderiam ser separadas para criar as camadas de movimento.

O processo foi utilizado em King Kong (1933), de Merian Caldwell Cooper e Ernest B. Schoedsack, mas, como sempre, existem problemas – e nesse processo, o fator negativo era que ele só funcionava em filmes em preto e branco.

PROCESSO CARO

Com o surgimento do filme colorido, um novo modo de fazer estes efeitos foi criado por Larry Butler, em 1940. Este tinha, como característica, usar a técnica de filmagem “Technicolor de três tiras”: a filmagem dos elementos era feita contra um fundo azul (já que esta é a cor mais distante dos tons de pele e, também, a que tinha menos grão fotográfico).

Butler pegava apenas a separação azul dos três negativos Technicolor, de forma a obter uma camada de silhueta. Em seguida, utilizava uma impressora óptica (então, uma invenção recente) para combinar múltiplas tiras de filme em um único filme, removia o fundo azul da cena principal e, para tirar a parte principal do novo fundo, utilizava o negativo. Depois, fazia a composição de ambos em um só. Com essa técnica, Butler ganhou o Oscar de Efeitos Especiais com O Ladrão de Bagdá (1940).

Como esse processo era extremamente caro (e também tinha problemas com bordas), foram feitas novas pesquisas de técnicas e, no meio de uma delas, surgiu, no final dos anos 1950, a Tela Amarela, criada por PetroVlahos e amplamente utilizada pelo Walt Disney Studios nos anos 1960 e 1970. Era utilizado o processo de Vapor de Sódio, no qual os atores eram iluminados normalmente na frente de uma tela branca iluminada por luzes potentes de Vapor de Sódio, iguais àquelas luzes laranja que vemos em postes de rua. Esse tipo de lâmpada emite luz em um comprimento de onda muito especifico.

Ao utilizar um prisma com revestimento especial adaptado em uma antiga câmera Technicolor de 3 tiras, em que o comprimento de onda específico da lâmpada de vapor era capturado em um filme especial P&B, era possível criar automaticamente a camada  de movimento, enquanto as outras luzes eram capturadas na técnica regular de 3 tiras da câmera, sendo pouco afetadas pelas luzes de sódio.

Foi considerada uma das melhores técnicas de composição da época e teve um uso enfático no clássico Mary Poppins (1964), que ganhou um Oscar de efeitos especiais. O maior problema desse processo era que existia apenas um prisma para a luz de vapor de sódio no mundo todo, ou seja: apenas uma câmera era capaz de realizá-lo. E, como a Disney era a dona da câmera, seu aluguel não era barato.

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